
A Rússia voltou a apertar o cerco sobre tecnologias estrangeiras ao impor restrições ao WhatsApp para milhões de usuários, sob a alegação de que o aplicativo estaria sendo usado para terrorismo, espionagem e crimes digitais. A ação reforça a estratégia do Kremlin de limitar plataformas ocidentais e fortalecer o uso de serviços digitais nacionais.
Nos últimos dias, moradores de Moscou e São Petersburgo relataram falhas no envio de mensagens, além de lentidão no carregamento de fotos e vídeos. Mesmo após o final de semana, parte dos usuários continuava enfrentando instabilidade. O órgão regulador Roskomnadzor confirmou a aplicação de medidas restritivas, acusando o WhatsApp de violar repetidamente a legislação local.
Segundo o governo, o aplicativo estaria sendo usado para organização de atividades terroristas, fraudes e recrutamento criminoso. As autoridades russas recomendaram que a população migre para alternativas internas e alertaram que o WhatsApp pode ser bloqueado nacionalmente caso não cumpra exigências legais.
Vazamento de conversas pode ter impulsionado a medida
De acordo com o parlamentar Anton Gorelkin, um dos gatilhos para a decisão foi o suposto vazamento de diálogos diplomáticos envolvendo Yuri Ushakov, assessor de Vladimir Putin, o empresário americano Steve Witkoff e o investidor Kirill Dmitriev.
Ushakov reconheceu que algumas conversas importantes ocorrem por canais criptografados do governo, mas admitiu que diálogos com Witkoff e Dmitriev poderiam ter acontecido via WhatsApp — o que, segundo ele, “pode ser ouvido por alguém”.
Em seu canal no Telegram, Gorelkin afirmou que o episódio mostra que os responsáveis pelo WhatsApp “não apenas ignoram atividades ilegais, mas participam ativamente delas”. Até o momento, WhatsApp e Meta não comentaram as acusações.
Pressão sobre aplicativos estrangeiros vem aumentando
A ofensiva não é recente. Desde agosto de 2025, ligações por voz no WhatsApp e no Telegram foram proibidas sob justificativa de segurança nacional. Na época, o WhatsApp afirmou que a medida buscava forçar usuários a adotar serviços mais vulneráveis à vigilância estatal.
A política de controle digital tem se intensificado. Entre as ações mais recentes:
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dispositivos Apple vendidos no país devem vir com buscadores locais como Yandex e Mail.ru;
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o Speedtest foi bloqueado alegando riscos à segurança nacional;
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Facebook, Instagram e Discord só funcionam via VPN;
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limitações a sites protegidos pela Cloudflare causaram interrupções no tráfego russo.
Alternativa estatal ganha força
Como parte da estratégia de soberania digital, o governo promove o Max, mensageiro estatal inspirado no modelo do WeChat, com o objetivo de se tornar a principal plataforma de comunicação no país.
Fonte: Recorded Future News



