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Operação 404: O Fim da “Brincadeira” para a Pirataria Digital

Por Altevir Ferezin Jr.

Acompanho o cenário de segurança digital há mais de duas décadas e, se há algo que aprendi, é que o crime cibernético não é estático. Ele evolui, adapta-se e, acima de tudo, profissionaliza-se. A recente 8.ª fase da Operação 404, deflagrada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), não é apenas mais uma manchete sobre sites bloqueados. É um sinal claro de que o Estado percebeu que não se combate tecnologia apenas com leis de papel, mas com inteligência técnica e cooperação transnacional.

A Escala do Golpe

Para quem acha que estamos a falar de um ou dois sites de filmes amadores, os números mostram outra realidade. Nesta fase, foram bloqueados 535 sites e um aplicativo de streaming ilegal. Mas o número que realmente importa aqui não é o de domínios derrubados. É o de mandados: 44 de busca e apreensão e várias prisões.

Porquê? Porque derrubar um site é fácil. Qualquer garoto com um pouco de conhecimento técnico sobe um espelho (um site cópia) em questão de horas. O que a Operação 404 está a fazer de diferente — e que demorou anos para acontecer — é atacar a infraestrutura e o financiamento. Ao apreender equipamentos e prender os operadores, a polícia quebra a cadeia logística do crime, não apenas a vitrine.

A Rede Internacional

A pirataria moderna não respeita fronteiras. Um servidor pode estar na Rússia, o domínio registado em Tonga, o pagamento processado via criptoativos e o conteúdo consumido na sua sala de estar em Lisboa ou São Paulo.

A 8.ª fase destaca-se pela colaboração com organismos do Reino Unido, Peru, Argentina e observadores dos EUA. Isso é crucial. Nos meus 25 anos de estrada, vi muitas investigações morrerem porque a polícia local não tinha jurisdição para pedir dados a um servidor noutro país. Essa barreira está a cair. A presença de entidades como a Premier League e a Alianza na operação mostra que o setor privado finalmente entendeu que precisa fornecer inteligência técnica para as forças policiais, e não apenas reclamar dos prejuízos.

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Muitos ainda veem a pirataria como um “crime sem vítima” ou uma forma de acesso à cultura. Como analista de segurança, preciso ser franco: isso é ingenuidade. O prejuízo estimado de R$ 468 mil milhões ao Brasil em 2024 não desaparece; ele é absorvido pelos preços que todos pagamos.

Mais grave ainda é o que não se vê. Esses sites não se mantêm no ar por caridade. Eles são financiados por publicidade duvidosa (muitas vezes “malvertising”, que infeta o dispositivo do utilizador) e, frequentemente, servem de fachada para lavagem de dinheiro de organizações criminosas maiores. Ao usar esses serviços, o utilizador está, na prática, a abrir a porta da sua rede doméstica para criminosos.

O Jogo de Gato e Rato

O nome “404” é uma referência técnica sagaz ao código de erro HTTP para “Página Não Encontrada”. O objetivo é literal: tornar o serviço indisponível.

Contudo, não nos iludamos. Esta é uma corrida armamentista. Enquanto a polícia aprende a bloquear IPs e domínios com a ajuda da Anatel, os piratas já exploram redes descentralizadas e IPTVs encriptados para contornar as barreiras. O bloqueio de 535 sites é uma vitória significativa, mas tática. A vitória estratégica virá quando o custo de operar essas redes ilegais for maior do que o lucro que elas geram.

Estamos a caminhar nessa direção. A impunidade digital, que reinou absoluta nos anos 2000, está a diminuir. Para o utilizador comum, fica o aviso: o “grátis” na internet costuma cobrar um preço alto na segurança dos seus dados.

Para entender melhor o impacto financeiro massivo que estas operações visam estancar, recomendo ver esta análise sobre os prejuízos da pirataria para a economia:

[Brasil tem prejuízo de R$ 468 bilhões com pirataria em 2024]

https://www.youtube.com/watch?v=Pg67jC8JkwM

Este vídeo é relevante porque contextualiza o volume de dinheiro que escapa à economia formal devido à pirataria, justificando o esforço massivo e internacional visto na Operação 404.

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