
Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Banco Pleno com vencimento ainda neste mês registraram forte disparada no mercado secundário após a liquidação extrajudicial do Banco Master determinada pelo Banco Central. No dia do anúncio, as taxas chegaram ao pico de 165% do CDI, reflexo da apreensão dos investidores diante do cenário. Nesta semana, houve um leve recuo, mas os papéis ainda são negociados em torno de 130% do CDI.
O Banco Pleno — antigo Banco Voiter — deixou o conglomerado do Banco Master em setembro e, por isso, não foi incluído no processo de liquidação. Assim, seus CDBs seguem sendo negociados normalmente na plataforma secundária da XP, enquanto os títulos emitidos pelo Banco Master e pelo restante do grupo tiveram as negociações suspensas.
Os CDBs que vencem este mês foram emitidos em duas séries: uma em 2023, com taxa de 100% do CDI, e outra em 2024, oferecendo 114% do CDI. As ofertas atuais, muito mais altas, mostram que investidores estão dispostos a vender os títulos por valores bem abaixo do preço original, explica Pedro Ávila, analista de crédito da Varos.
Ao mesmo tempo, um CDB do Banco Pleno com vencimento em 2030 aparece com taxa de 115% do CDI — inferior às taxas dos títulos de curto prazo. Até sexta-feira, os CDBs prefixados do banco pagavam 17%, equivalente a cerca de 130% do CDI.
Esse comportamento é considerado atípico no mercado de renda fixa, já que títulos com prazos mais longos tendem a oferecer remunerações maiores devido ao risco adicional do tempo. A inversão das taxas indica um forte receio do mercado.
Riscos e impacto no mercado
Ainda sob o nome Voiter, o Banco Pleno realizou 57 emissões de CDBs entre 2019 e 2025, com aceleração em 2024, quando lançou 47 séries. Todas seguiam remuneração dentro do padrão do mercado, normalmente em torno de 100% do CDI.
A recente disparada das taxas, porém, foi classificada como “injustificável” por Pedro Ávila. Para ele, o movimento mostra que investidores tentam se desfazer dos títulos rapidamente, vendendo-os com grande desconto — um sinal direto de preocupação com a instituição e seus papéis.
A operação Compliance Zero, da Polícia Federal, que levou à prisão de Augusto Lima e Daniel Vorcaro, também acendeu o alerta. Segundo Ávila, o episódio provocou uma nova onda de vendas forçadas no mercado secundário, pressionando preços e elevando as taxas.
Com a alta das taxas no secundário, o custo de captação do Banco Pleno tende a subir. Isso porque, em futuras emissões, investidores exigirão retornos maiores. O último balanço do banco mostra que seus custos de captação e juros somavam R$ 913,3 milhões até junho deste ano. O passivo de depósitos a prazo reduziu de R$ 5,8 bilhões no primeiro trimestre para R$ 5,3 bilhões no fim de junho.
A baixa liquidez atual dos papéis também é um sinal de alerta: pode ficar difícil para investidores saírem dos títulos sem prejuízo.
O que diz o Banco Pleno
Em nota oficial, o Banco Pleno esclarece que não é alvo da operação Compliance Zero e que não possui relação com os fatos investigados. A instituição afirma operar normalmente, mesmo após a prisão de Augusto Lima, e reforça que segue cumprindo todas as suas obrigações e serviços.
O banco também destaca que atua em conformidade com as normas do Sistema Financeiro Nacional e que possui governança robusta, com rígidos controles internos e práticas de prevenção à lavagem de dinheiro.
Vale a pena investir em CDB com taxas muito acima do mercado?
Segundo Carlos Castro, presidente da Superico e planejador financeiro, taxas muito acima da média do mercado escondem riscos importantes.
Ele explica que CDBs pós-fixados pagando entre 110% e 120% do CDI estão dentro do normal. Mas taxas entre 145% e 160% do CDI indicam problemas de crédito na instituição emissora — e um risco real de insolvência.
Além disso, Castro reforça que o investidor deve respeitar o limite do FGC (Fundo Garantidor de Créditos): até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição.



