
Fraudes digitais associadas à Black Friday seguem em trajetória de alta no Brasil e no mundo. Projeções da Juniper Research apontam que as perdas globais causadas por crimes cibernéticos podem se aproximar de US$ 400 bilhões até o fim de 2027, impulsionadas pelo avanço da digitalização e pelo uso de novas técnicas de ataque.
No cenário brasileiro, os números revelam um ambiente ainda mais preocupante. Um levantamento da Branddi indica que mais de mil sites fraudulentos foram identificados nas semanas que antecederam a Black Friday de 2024, muitos deles imitando grandes marcas como McDonald’s, Nike, Amazon e Mercado Livre. Pesquisa do Instituto Locomotiva e QuestionPro mostra que 42% dos consumidores já foram afetados por fraudes relacionadas à data ou conhecem alguém que passou pela situação. Entre os entrevistados, 16% afirmaram ter sido vítimas diretas e outros 6% sofreram o golpe e também conhecem outras vítimas.
Especialistas apontam que o período já se consolidou como um dos mais sensíveis para a segurança online no país. “As táticas de fraude evoluem com rapidez, e criminosos fazem uso crescente de tecnologias avançadas para enganar sistemas e consumidores”, diz Lucas Monteiro, Martech Leader da consultoria Keyrus.
Recordes de tentativas de fraude em 2025
Os números registrados em 2025 reforçam a gravidade do problema. Em janeiro, o Brasil contabilizou 1,242 milhão de tentativas de fraude — o maior volume desde o início do Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian, em 2023. O dado representa alta de 41,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior, equivalendo a uma tentativa a cada 2,2 segundos.
No acumulado do primeiro trimestre, o país registrou cerca de 3 milhões de tentativas, 22,9% a mais do que no mesmo período de 2024. De acordo com o Relatório de Identidade e Fraude 2025 da Serasa Experian, 51% dos brasileiros foram vítimas de algum tipo de fraude no último ano, e mais da metade teve prejuízo financeiro.
O setor de Bancos e Cartões concentrou 54% das ocorrências no início de 2025, totalizando aproximadamente 1 milhão de tentativas, com potencial estimado de R$ 15,7 bilhões em prejuízos. A biometria facial vem se consolidando como uma das principais barreiras contra golpes, com aumento de 78,1% nas fraudes evitadas em fevereiro de 2025 ante o mesmo mês de 2024.
Inteligência artificial amplia poder dos golpes
A inteligência artificial tem papel central na sofisticação dos crimes digitais. Dados da Sumsub indicam que os golpes com deepfakes cresceram 822% no Brasil entre 2022 e 2023 — uma incidência cinco vezes maior do que nos Estados Unidos. Casos de grande repercussão chamaram a atenção em 2024, como o da empresa britânica Arup, que transferiu US$ 25 milhões após uma videoconferência com executivos falsos criados por IA.
No Brasil, golpistas vêm utilizando deepfakes para simular a voz e imagem de apresentadores de televisão e autoridades públicas em anúncios falsos. Segundo a Febraban, crimes digitais causaram mais de R$ 10 bilhões em prejuízos ao país em 2024, aumento de 17% em comparação ao ano anterior.
“A inteligência artificial está presente nos dois lados da disputa. Enquanto criminosos utilizam ferramentas avançadas para criar golpes cada vez mais realistas, empresas recorrem à IA para detectar comportamentos suspeitos em velocidades antes impossíveis”, afirma Fernando Corrêa, CEO da Security First.
Como os golpes se estruturam
Entre as principais estratégias utilizadas por criminosos estão:
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Reprodução de sites idênticos aos de lojas oficiais;
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Uso de deepfakes em anúncios para dar credibilidade às ofertas;
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Promoções com preços irrealistas e pagamento via Pix;
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Coleta de dados pessoais e bancários para fraudes futuras;
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Perfis falsos nas redes sociais com anúncios patrocinados.
Recomendações para evitar prejuízos
Especialistas indicam que consumidores devem adotar uma postura preventiva antes e durante as compras. Entre as recomendações estão:
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Pesquisar preços com antecedência;
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Verificar reputação do vendedor e situação cadastral da empresa;
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Digitar o endereço do site diretamente no navegador;
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Confirmar uso de HTTPS e atenção a erros na URL;
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Conferir dados do beneficiário em pagamentos via Pix;
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Utilizar cartões virtuais ou temporários para compras online.
Sinais de alerta incluem mensagens não solicitadas com ofertas exclusivas, pressão com contagem regressiva exagerada e pedidos de pagamento fora dos canais oficiais.



