
A recusa em adotar a inteligência artificial na área da saúde pode trazer mais prejuízos do que benefícios, alerta o médico e autor Robert Pearl em um artigo publicado pelo The Guardian nesta quinta-feira (13). Segundo ele, afastar a tecnologia dos sistemas de cuidado não protege os pacientes — pelo contrário, pode aumentar o número de falhas e mortes evitáveis.
Pearl lembra que, todos os anos, centenas de milhares de pessoas morrem nos Estados Unidos por causa de diagnósticos incorretos ou erros médicos. Ele aponta que a inteligência artificial generativa — modelos capazes de interpretar informações e gerar respostas ou recomendações — tem potencial para atuar como um apoio contínuo aos profissionais, especialmente no monitoramento de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca.“A questão não é escolher entre médico ou IA, mas aprender a trabalhar com médico e IA”, afirma.
Uma ferramenta de apoio, não de substituição
O especialista explica que a IA generativa pode ajudar médicos a identificar sinais de alerta precoces, orientar pacientes entre consultas e oferecer respostas rápidas em situações em que o atendimento humano não está disponível. Essa integração, diz ele, não substitui o olhar clínico, mas o amplia.
Apesar do entusiasmo, Pearl reconhece que há riscos reais. A pressão por produtividade, a falta de regulamentação e os incentivos financeiros mal estruturados do sistema de saúde podem levar ao uso indevido dessas ferramentas. Ainda assim, ele defende que ignorar a tecnologia seria um erro grave, pois deixaria os problemas atuais sem solução.“Rejeitar a IA não protegerá os pacientes. Apenas perpetuará as falhas que já existem”, escreve.
O impacto global e os desafios éticos
A discussão sobre o uso da inteligência artificial na medicina cresce em todo o mundo. Hospitais e redes de saúde vêm testando ferramentas que auxiliam no diagnóstico por imagem, na triagem de sintomas e na análise de dados clínicos em tempo real. Ao mesmo tempo, cresce a preocupação com privacidade, transparência e viés nos algoritmos — fatores que podem comprometer a confiança pública.
Pearl defende que o foco deve estar em criar uma colaboração responsável entre médicos e tecnologia, com protocolos de segurança, revisão ética e treinamento profissional. Segundo ele, a IA generativa, se aplicada de forma correta, pode reduzir erros e salvar vidas.
Um alerta também para o Brasil
Embora o artigo trate da realidade norte-americana, as conclusões valem para outros países, inclusive o Brasil, onde há desafios semelhantes: escassez de médicos em regiões remotas, altas taxas de doenças crônicas e limitações de infraestrutura.
Para especialistas, a adoção de IA no sistema de saúde brasileiro pode ampliar o acesso e melhorar a prevenção, mas requer investimento, regulação clara e formação técnica para evitar riscos.
Em meio à rápida expansão da inteligência artificial generativa, a mensagem de Pearl é direta: a tecnologia, quando usada com responsabilidade, não ameaça a medicina — ela a fortalece.



