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Boston aposta em megaprojeto para descarbonizar o aquecimento urbano com a maior bomba de calor industrial do mundo

A cidade de Boston, nos Estados Unidos, deu um passo decisivo rumo à descarbonização de sua matriz térmica. Está em andamento o projeto que promete instalar a maior bomba de calor industrial do planeta, um sistema inovador que substituirá caldeiras a gás natural e transformará a forma como grandes áreas urbanas são aquecidas.

Um sistema gigante e livre de emissões

O projeto é resultado da parceria entre a fabricante Everllence e a empresa de energia Vicinity Energy. As companhias estão construindo uma instalação de 35 megawatts, capaz de produzir 50 toneladas métricas de vapor por hora, suficiente para atender mais de 70 milhões de pés quadrados de prédios — incluindo residências, hospitais, escolas e escritórios.

A nova infraestrutura deve entrar em operação em 2028 e usará energia renovável e calor extraído das águas do rio Charles. Esse calor será convertido em vapor, distribuído pela rede de aquecimento existente, substituindo o gás natural e eliminando as emissões diretas de carbono.
“A ideia nasceu como um esboço simples, mas hoje representa uma virada na maneira como pensamos a descarbonização urbana”, explica Alejandro Gorosito, gerente de vendas nacional da Everllence.

Legislações locais impulsionam inovação

A iniciativa é impulsionada por políticas climáticas rígidas adotadas no nordeste dos EUA.
Em Nova York, a Lei Local 97 estabelece que os edifícios reduzam suas emissões em 40% até 2030 e atinjam neutralidade de carbono até 2050, sob pena de multas de US$ 268 por tonelada de CO₂ excedente.
Em Boston, o Building Emissions Reduction and Disclosure Ordinance (BERDO) impõe metas semelhantes, com penalidades de US$ 234 por tonelada.

O problema é que adaptar prédios antigos custa caro. Segundo o Rocky Mountain Institute (RMI), os retrofits de sistemas de aquecimento e ventilação podem custar entre US$ 25 e US$ 150 por pé quadrado — o equivalente a US$ 12,5 milhões a US$ 75 milhões em um edifício de 500 mil pés quadrados.
A tecnologia desenvolvida pela Everllence ajuda a contornar esse desafio, pois usa a infraestrutura de vapor já existente. Diferentemente dos sistemas europeus, que trabalham com água quente, grande parte das cidades americanas utiliza redes de vapor para distribuir calor. A inovação da Everllence combina compressão de vapor e ar, gerando vapor a até 50 bar e 300 °C, sem emissões e com aproveitamento total das tubulações urbanas.

Contexto político e econômico

O avanço desse tipo de tecnologia ocorre em meio a um cenário político controverso. O governo federal, sob a atual administração de Donald Trump, vem revogando subsídios verdes criados durante a gestão anterior.
Entre as medidas suspensas está o crédito fiscal de 30% concedido a residências que instalassem bombas de calor ou sistemas de energia limpa, benefício criado pela Lei de Redução da Inflação do governo Biden. O programa será encerrado em 31 de dezembro de 2025, o que pode desacelerar a adoção residencial.
Apesar disso, os números mostram que o incentivo teve impacto significativo: só em 2023, cerca de 2 milhões de lares americanos receberam US$ 2 bilhões em créditos para projetos de eficiência energética.
Impacto no consumo e na rede elétrica

Estudos da organização Rewiring America, que promove a eletrificação limpa, indicam que a adoção ampla de bombas de calor em estados como Texas e Arizona poderia reduzir a demanda máxima de energia em 6,8 GW e 1,3 GW, respectivamente — o suficiente para compensar o consumo anual de mais de 200 centros de dados.
Com o crescimento acelerado dos data centers de inteligência artificial, essa redução seria essencial para equilibrar a rede elétrica e conter aumentos de custo.

Alejandro Gorosito acredita que, independentemente de mudanças nas políticas federais, a lógica econômica sustentará a expansão da tecnologia:
“Mesmo sem incentivos, as bombas de calor se pagam sozinhas. Elas substituem caldeiras e sistemas de ar-condicionado, reduzem custos e tornam as cidades mais limpas. O avanço é inevitável.”
Uma nova era para o aquecimento urbano
O sistema de Boston representa uma mudança estrutural na forma como as cidades encaram a transição energética.

Ao aproveitar redes já existentes e apostar em tecnologias elétricas de alta eficiência, o projeto cria um modelo escalávelpara centros urbanos do mundo inteiro — especialmente aqueles que buscam neutralizar suas emissões sem precisar reconstruir toda a infraestrutura térmica.
Com início previsto para 2028, o projeto reforça que a descarbonização urbana é possível mesmo diante de incertezas políticas e orçamentárias. Em um momento em que o debate global sobre energia limpa se intensifica, Boston pode se tornar o novo símbolo da inovação climática industrial.

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