
O Brasil e a Índia deram um novo passo em direção à modernização do setor agrícola com o lançamento do MAITRI 2.0, um programa de inovação voltado ao desenvolvimento conjunto de soluções tecnológicas para o campo. A iniciativa une instituições, startups e incubadoras dos dois países com o objetivo de acelerar a digitalização e fortalecer práticas sustentáveis na agricultura.
O projeto foi anunciado em Nova Déli, com a participação do Indian Council of Agricultural Research (ICAR), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e do Itamaraty, marcando o início de uma nova etapa de cooperação estratégica entre as duas nações.
Uma ponte entre ecossistemas de inovação
O MAITRI 2.0 — sigla para Mutual Action for Innovation and Technology in Rural Incubation — funcionará como uma plataforma de intercâmbio e co-criação entre os ecossistemas de agrotecnologia da Índia e do Brasil.
A proposta é simples e ambiciosa: conectar incubadoras e parques tecnológicos dos dois países para que startups, pesquisadores e empreendedores possam desenvolver, testar e adaptar tecnologias agrícolas a diferentes realidades de solo, clima e mercado.
Essa nova fase dá continuidade à cooperação técnica iniciada há mais de sete décadas entre os países e pretende aproximar os dois maiores produtores agrícolas do hemisfério Sul, em um momento de forte pressão global por produtividade e sustentabilidade no campo.
Tecnologia, sustentabilidade e competitividade
O programa prioriza áreas consideradas estratégicas para o futuro do agro:
Agricultura digital e uso de dados em tempo real;
Automação e inteligência artificial aplicada à gestão de fazendas;
Tecnologias de baixo carbono e manejo sustentável;
Valorização de cadeias agroalimentares e redução de desperdício.
Segundo o MAPA, a iniciativa busca “fortalecer a inovação aberta, promover transferência de conhecimento e ampliar oportunidades de negócios entre startups e produtores rurais”.
De acordo com autoridades indianas, a ideia é “transformar o campo em um espaço de colaboração tecnológica e geração de valor”, explorando sinergias entre os sistemas produtivos dos dois países — diferentes em escala, mas complementares em desafios.
Missões e parcerias concretas
O MAITRI 2.0 será implementado em duas etapas de intercâmbio: a primeira envolve a ida de representantes brasileiros à Índia, para conhecer os principais polos de agrotecnologia indianos; a segunda, a visita de delegações indianas ao Brasil para explorar parcerias com centros de inovação como a Embrapa, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Parque Tecnológico da UFSM.
A meta é criar parcerias de incubação cruzada — em que startups brasileiras possam validar tecnologias em fazendas indianas e vice-versa. Também estão previstos editais conjuntos de inovação, mentorias internacionais e programas de aceleração compartilhados.
Oportunidades e desafios
Para o Brasil, o programa representa uma vitrine internacional para suas agtechs e pode abrir portas para novos investimentos e mercados. Já a Índia busca aprender com o modelo brasileiro de extensão rural e ampliar sua capacidade de inovação agrícola em larga escala.
Especialistas destacam, porém, que o sucesso do MAITRI 2.0 depende de uma coordenação eficiente entre as instituições envolvidas e de políticas que incentivem a aplicação prática das inovações no campo.
Outro desafio será traduzir tecnologia em resultado, garantindo que soluções desenvolvidas em ambientes de incubação cheguem efetivamente aos pequenos e médios produtores — tanto brasileiros quanto indianos.
Uma agenda estratégica para o futuro
Com o MAITRI 2.0, Brasil e Índia se colocam lado a lado na missão de criar sistemas agroalimentares mais inteligentes, sustentáveis e resilientes. A parceria reflete o papel crescente do Sul Global na liderança de soluções agrícolas para um planeta em transformação.
“Essa é uma cooperação que vai muito além da diplomacia; é uma aposta no futuro da produção de alimentos e na inovação como força de transformação social e econômica”, afirmou um dos representantes do projeto.
Enquanto os editais oficiais são preparados, o MAITRI 2.0 já simboliza uma visão compartilhada: a de que o campo do futuro será cada vez mais conectado — e que a inovação é o novo idioma da agricultura mundial.



