
O setor da construção civil brasileiro completa um ano convivendo com um obstáculo que parece não dar trégua: as taxas de juros elevadas. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 35% dos empresários apontam o custo do crédito como o principal entrave para o crescimento do segmento.
Mesmo com uma leve melhora nos indicadores do terceiro trimestre de 2025, o cenário ainda é de cautela. As condições financeiras continuam restritivas e o acesso ao crédito permanece difícil, limitando a expansão das empresas e a retomada de novos investimentos.
Além dos juros, outros fatores seguem pressionando o setor. A carga tributária elevada foi citada por 32,2% dos entrevistados, enquanto a falta de mão de obra qualificada (25,8%) e não qualificada (24,5%) também figura entre os principais problemas enfrentados pelas construtoras.
O índice de facilidade de acesso ao crédito alcançou 38,6 pontos, em uma escala onde valores abaixo de 50 indicam restrição. Já o índice de evolução dos preços de insumos atingiu 61,6 pontos, revelando aceleração nos custos e margens de lucro cada vez mais apertadas.
Apesar dos desafios, o setor mostrou alguns sinais de recuperação. O nível de atividade registrou 48,4 pontos em setembro — acima da média histórica, mas ainda inferior ao mesmo mês de 2024. O índice de emprego ficou em 47,1 pontos, o menor patamar para o mês nos últimos sete anos, mas com leve alta em relação a agosto.
A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) também apresentou melhora, subindo para 68%, dois pontos acima do mês anterior. Já o índice de satisfação financeira das empresas atingiu 48,7 pontos, mostrando avanço em relação ao trimestre anterior, ainda que permaneça abaixo da linha de equilíbrio.
Outro dado positivo vem da confiança dos empresários. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) da construção subiu 1,4 ponto, chegando a 48,4 pontos. Embora ainda esteja abaixo dos 50, o avanço indica uma percepção mais favorável sobre os próximos meses. Em outubro, o índice de expectativa de nível de atividade atingiu 52,4 pontos, ultrapassando a marca que separa pessimismo de otimismo.
Para especialistas, o cenário reforça que, mesmo com alguns avanços, a construção civil segue em “modo de sobrevivência”. O alto custo do crédito e a dificuldade de financiamento continuam pesando no caixa das empresas e reduzindo o ritmo de obras, especialmente entre pequenos e médios negócios.
Enquanto isso, o setor aguarda melhoras estruturais — como juros mais baixos, simplificação tributária e políticas de qualificação profissional — para poder retomar o crescimento de forma consistente.
Os sinais de otimismo, embora tímidos, mostram que a recuperação pode estar começando, mas depende diretamente da evolução das condições macroeconômicas e da capacidade do país de tornar o investimento em construção mais acessível e previsível.



