
O estudo foi conduzido por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com apoio do Instituto Serrapilheira, e publicado na revista Molecular Psychiatry. O teste mede a concentração da proteína p-tau217 no plasma sanguíneo — um biomarcador associado à degeneração cerebral causada pelo Alzheimer. Os resultados mostraram precisão entre 94% e 96%, desempenho semelhante ao de exames complexos como o PET-CT e a análise de líquor, porém com custo muito menor.
Atualmente, o diagnóstico da doença depende, em grande parte, de avaliações clínicas e testes cognitivos. Quando necessário, médicos recorrem a exames complementares de imagem ou coleta de líquor — procedimentos caros, invasivos e de difícil acesso na rede pública. O novo exame de sangue, por outro lado, exige apenas uma amostra simples e equipamentos de alta sensibilidade, reduzindo os custos em até dez vezes.
Um diferencial importante do estudo é que ele incluiu pacientes brasileiros de diferentes níveis de escolaridade, o que amplia a representatividade da pesquisa e reforça sua aplicabilidade em contextos sociais diversos.
Próximas etapas: validação em larga escala
Após os resultados positivos, a UFRGS deu início à Iniciativa Brasileira de Biomarcadores para Doenças Neurodegenerativas (IB-BioNeuro), projeto que pretende confirmar a eficácia do exame em uma amostra muito maior.
Serão avaliados 3 mil voluntários em dez cidades do Rio Grande do Sul, em um estudo com duração prevista de 24 meses e investimento estimado em R$ 20 milhões. A iniciativa conta com financiamento de instituições públicas como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Finep, o FNDCT e a Secretaria Estadual da Saúde do RS.
Com a conclusão da pesquisa, a expectativa é que o exame seja submetido à avaliação da Anvisa, abrindo caminho para sua aplicação em larga escala — tanto na rede privada quanto, futuramente, no Sistema Único de Saúde (SUS).
Educação e hábitos de vida também influenciam o cérebro:
Outro estudo conduzido pela mesma equipe da UFRGS, publicado na The Lancet Global Health, reforça que fatores sociais e de estilo de vida são determinantes para a saúde cerebral. A análise de 41 mil pessoas em cinco países latino-americanos mostrou que nível de escolaridade, saúde mental e prática de atividade física têm impacto maior sobre o envelhecimento do cérebro do que idade ou sexo.
No Brasil, a baixa escolaridade apareceu como o principal fator de risco para o declínio cognitivo. A pesquisa também identificou que depressão, isolamento social e sedentarismo aceleram o envelhecimento cerebral, reforçando a importância de políticas públicas voltadas à educação, bem-estar emocional e envelhecimento saudável.
Um avanço que pode transformar o diagnóstico do Alzheimer
Caso os resultados se confirmem na fase de validação nacional, o exame de sangue poderá revolucionar o diagnóstico precoce do Alzheimer, tornando-o mais rápido, preciso e financeiramente acessível.
A tecnologia representa um passo decisivo na democratização da saúde cerebral e posiciona o Brasil como um dos protagonistas na pesquisa global sobre biomarcadores de doenças neurodegenerativas.



