
A segurança dos dados começa (e termina) no descarte. Segundo Sean Magann, diretor comercial da Sims Lifecycle Services, “nossa primeira preocupação é sempre dados, dados, dados, dados”. Essa afirmação resume o papel crítico dos ITADs (provedores de desativação de ativos de TI), responsáveis por garantir que nenhuma informação sensível permaneça em dispositivos descartados como celulares, notebooks, servidores e até veículos inteligentes.
O trabalho desses provedores vai além da reciclagem ou revenda de equipamentos: é sobre impedir que dados confidenciais caiam em mãos erradas. E esse risco é real — segundo relatórios recentes, perdas de dados por roubo físico de dispositivos são mais frequentes do que ataques de ransomware.
Mesmo após redefinições de fábrica ou exclusões manuais, vestígios de informações frequentemente permanecem em discos rígidos e smartphones. Por isso, ITADs investem pesado em métodos certificados de eliminação segura, como softwares especializados, desmagnetização e destruição física dos dispositivos.
A falha humana e os riscos invisíveis
Seja em grandes corporações, órgãos públicos ou mesmo consumidores comuns, o erro mais comum é presumir que dados foram apagados ao doar, revender ou descartar um dispositivo. “Você pode presumir que, ao entregar seu produto usado, os dados serão apagados? Não, não pode”, alerta Joe Marion, presidente da Associação de Provedores de ITADs.
Em data centers e empresas que lidam com dados de terceiros, até mesmo a menor chance de falha é inaceitável. Nesses casos, a destruição física ainda é o método preferido. Mas mesmo triturando os equipamentos, partes residuais ainda podem conter dados, o que exige etapas finais como fundição — embora essa solução traga implicações ambientais.
O impacto crescente do lixo eletrônico
Em 2022, o mundo produziu 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico. Esse número deve saltar para 82 milhões até 2030, segundo a ONU. Nos Estados Unidos, menos de 20% desse volume foi reciclado corretamente, mesmo com um mercado de reciclagem que movimentou mais de US$ 28 bilhões em 2024.
Além do impacto ambiental, esse volume de equipamentos mal descartados representa um enorme risco de segurança. Dispositivos descartados em aterros sanitários frequentemente ainda contêm dados recuperáveis, o que atrai criminosos e catadores oportunistas.
ITADs, certificações e o papel das grandes marcas
Hoje, empresas como Verizon, Apple, Samsung, Dell e AT&T já revendem dispositivos recondicionados. No entanto, garantir a exclusão dos dados anteriores é essencial. Por isso, elas recorrem a ITADs certificados e soluções como Blancco, Phonecheck e Certus. Empresas sérias oferecem certificados formais de destruição de dados — algo que consumidores, infelizmente, ainda raramente recebem.
Dados em carros conectados: o novo desafio
Veículos modernos também representam riscos. De informações bancárias a contatos pessoais, muitos carros armazenam dados sensíveis sem qualquer proteção real. Locadoras e concessionárias nem sempre limpam esses dados ao repassar os veículos.
Softwares como os da Privacy4Cars oferecem soluções tanto para consumidores quanto para empresas, com certificações semelhantes a relatórios de histórico veicular como Carfax. Ainda assim, a limpeza de dados em frotas menores ou veículos alugados segue negligenciada.
Conclusão: apagar dados é uma obrigação, não uma opção
A realidade é clara: dados mal apagados podem gerar vazamentos, multas e danos à reputação de empresas e pessoas físicas. “Agora, com a IA, os dados são ainda mais valiosos. É muito perigoso se os agentes errados obtiverem essas informações”, alerta John Shegerian, CEO da Electronic Recyclers International.
O setor de ITADs se mostra cada vez mais essencial, não apenas para a sustentabilidade, mas como pilar da cibersegurança moderna. Em um mundo movido por dados, apagar é tão importante quanto proteger.