
A indústria brasileira de cacau enfrenta uma ameaça séria: a partir de 6 de agosto de 2025, entra em vigor uma tarifa de 50% sobre os derivados de cacau exportados para os Estados Unidos. A medida, anunciada pelo governo Trump, tem potencial para causar um impacto direto de R$ 180 milhões ao setor ainda neste ano, segundo estimativa da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
Os Estados Unidos são o segundo principal destino das exportações brasileiras de derivados de cacau, sendo responsáveis por 18% dos embarques totais e praticamente 100% da manteiga de cacau enviada ao exterior. Em 2024, as exportações para os EUA somaram US$ 72,7 milhões, e, só no primeiro semestre de 2025, já alcançaram US$ 64,8 milhões.
Com a nova alíquota, exportar para o mercado norte-americano se torna inviável economicamente. Como consequência, a ociosidade das indústrias processadoras, que hoje gira em torno de 23,8%, pode saltar para até 37%. Isso coloca em risco a operação de diversas unidades industriais, principalmente na Bahia, no Pará e em São Paulo — e pode afetar até 200 mil empregos diretos e indiretos ligados à cadeia produtiva.
Além da tarifa, o setor já vem enfrentando desafios internos, como a quebra de safra e o aumento dos custos com a matéria-prima. Com a barreira comercial imposta pelos EUA, o risco de paralisação parcial ou total das atividades em algumas fábricas se torna real e iminente.
Diante desse cenário, a AIPC pede que o cacau e seus derivados sejam excluídos da lista de produtos sobretaxados, e reforça a necessidade de negociação diplomática entre os governos brasileiro e norte-americano. Representantes do setor têm pressionado o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para que articulem medidas emergenciais.
Entre as alternativas estudadas estão a criação de linhas de crédito especiais, incentivos fiscais, apoio à exportação para novos mercados e ações junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a medida adotada pelos Estados Unidos.
Para o setor, a sobretaxa representa não apenas uma barreira econômica, mas também uma ameaça à sustentabilidade da indústria nacional de cacau, que tem papel importante no desenvolvimento socioeconômico de várias regiões do país.