
Em meio à escalada das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, autoridades norte-americanas vêm intensificando conversas com representantes do setor de mineração brasileiro. O interesse é claro: garantir acesso a minerais críticos como lítio, nióbio, terras raras, cobre, grafite e cobalto — considerados estratégicos para setores como energia limpa, defesa e tecnologia.
Essas movimentações ocorrem paralelamente à decisão do governo dos EUA de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025, uma medida anunciada sob o pretexto de “segurança nacional”. O governo brasileiro, no entanto, enxerga a ação como politicamente motivada, especialmente após críticas norte-americanas ao tratamento dado pelo Brasil às investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Impacto direto na mineração
O setor mineral brasileiro, responsável por cerca de US$ 35 bilhões em exportações em 2024, poderá ser fortemente afetado pelo tarifaço. De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), os prejuízos podem chegar a US$ 1 bilhão por ano, com efeitos principalmente sobre a competitividade internacional, aumento de custos logísticos e perda de margem operacional.
As mineradoras brasileiras também temem uma possível retaliação indireta, como restrições ao acesso de equipamentos importados dos EUA, fundamentais para a operação de muitas empresas do setor.
Reuniões e propostas bilaterais
Nas últimas semanas, diplomatas americanos intensificaram o diálogo com autoridades brasileiras. O encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, participou de reuniões com o IBRAM e outras entidades para tratar de parcerias estratégicas voltadas à mineração. Apesar do interesse declarado, os Estados Unidos não sinalizaram que a suspensão das tarifas esteja condicionada a qualquer acordo.
A conversa mais recente envolveu também o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, que classificou o encontro com representantes do Departamento de Comércio dos EUA como “bom e proveitoso”. Alckmin defendeu o diálogo, mas ressaltou que o Brasil não aceitará imposições.
“O Brasil está aberto à cooperação, mas não à exploração. Os nossos recursos são soberanos”, afirmou o presidente Lula em discurso na semana passada, reiterando que o país não permitirá ingerência externa sobre seus ativos estratégicos.
Reação e plano emergencial do Brasil
Com o prazo para início das tarifas se aproximando, o governo brasileiro já apresentou uma carta formal aos EUA, realizou mais de dez reuniões diplomáticas e iniciou tratativas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Internamente, um plano de contingência está sendo preparado com linhas de crédito emergencial para empresas impactadas — principalmente exportadoras e indústrias que dependem de insumos americanos.
O Brasil, que atualmente registra superávit comercial com os EUA, também não descarta ações de reciprocidade, autorizadas pela legislação comercial brasileira.
Caminhos alternativos para o setor mineral
O IBRAM vê o momento como um alerta para diversificação de mercados. Hoje, os EUA representam cerca de 4% das exportações minerais do Brasil, o que, segundo a entidade, abre margem para reposicionamento geopolítico do setor. “É hora de buscar novos parceiros, fortalecer acordos com Europa, Ásia e países da América Latina”, afirma Raul Jungmann, presidente do Instituto.
A busca por alternativas já começou. Mineradoras estão avaliando rotas logísticas alternativas e abrindo diálogo com países interessados nos mesmos recursos que hoje despertam o apetite dos EUA.
Conclusão
O Brasil está diante de uma encruzilhada diplomática e econômica: de um lado, a pressão dos EUA com o tarifaço iminente; de outro, o interesse explícito no potencial mineral brasileiro. Enquanto as negociações seguem indefinidas, o país tenta proteger sua soberania, seu setor produtivo e, ao mesmo tempo, manter aberto o canal do diálogo — desde que este não venha com imposições.
O que está em jogo vai além das tarifas: trata-se do futuro da mineração nacional em um mundo cada vez mais dependente de recursos estratégicos para tecnologias do século XXI.