
Em um cenário em que conversas com inteligência artificial já fazem parte do cotidiano, surge uma mudança silenciosa, porém profunda: ao interagirmos com chatbots cada vez mais responsivos, não apenas os treinamos — nós também nos transformamos. A linguagem se molda, os pensamentos se ajustam e até nossas expectativas sobre as interações humanas se alteram. O impacto vai além da conveniência tecnológica e penetra nos domínios da cognição e da neuroplasticidade. Modelos como os de linguagem generativa se adaptam ao nosso estilo, tom e preferências, mas, em contrapartida, também induzem novos padrões mentais em quem os utiliza. Essa troca contínua, quase imperceptível, redefine a forma como pensamos, nos comunicamos e entendemos o outro.
Estudos recentes sugerem que essa convivência prolongada com inteligências artificiais pode nos levar a um tipo de “efeito espelho cognitivo”, em que nossas ideias e formas de expressão retornam a nós reforçadas, mas também potencialmente empobrecidas. À semelhança das bolhas algorítmicas nas redes sociais, as IAs tendem a reforçar nossas crenças e estilos já existentes, criando um ciclo de previsibilidade e engajamento superficial. No entanto, especialistas apontam que a chave está em como conduzimos essa relação. Adotar os princípios da atenção, apreciação, aceitação e autonomia pode ajudar a manter um uso consciente, produtivo e saudável da tecnologia — aproveitando seus benefícios sem cair nas armadilhas de uma mente automatizada.
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