
Enquanto avançam na transformação digital, as empresas argentinas enfrentam obstáculos críticos para consolidar sua resiliência cibernética. Um estudo recente da PwC, intitulado Global Digital Trust Insights 2025, revela as principais ameaças que pairam sobre o setor privado da Argentina e da América Latina, além de expor lacunas preocupantes em governança tecnológica, conformidade regulatória e estratégias de prevenção.
O relatório mostra que, embora 66% dos líderes globais de segurança considerem a cibersegurança o maior risco a ser mitigado atualmente, apenas 48% dos executivos de negócios compartilham dessa percepção, o que revela uma desconexão interna sobre prioridades estratégicas. A computação em nuvem lidera as preocupações, citada por 42% dos entrevistados como principal vetor de risco. Apesar disso, apenas 2% das organizações afirmam ter implementado políticas de resiliência cibernética em todas as frentes avaliadas.
Na Argentina, os riscos que mais preocupam são os ataques à nuvem, violações de segurança causadas por terceiros e invasões em produtos conectados à internet. Paradoxalmente, são justamente esses os pontos onde os executivos se sentem menos preparados para reagir, o que escancara uma fragilidade estrutural frente ao cenário atual de ameaças.
De acordo com Diego Taich, sócio da área de Consultoria da PwC Argentina, “as empresas reconhecem a importância da cibersegurança, mas a implementação de estratégias eficazes ainda é limitada. A falta de sinergia entre áreas técnicas e lideranças executivas dificulta uma resposta coordenada”.
A inteligência artificial generativa (GenAI), por sua vez, tem ampliado o alcance e a complexidade dos ataques. Segundo o estudo, 67% dos executivos acreditam que a adoção da GenAI elevou a exposição cibernética no último ano. Por outro lado, 78% estão investindo mais nessa tecnologia como aliada na proteção digital, e 72% fortaleceram sua governança de IA. Para Sebastián Santana, gerente sênior da PwC Argentina, o segredo está em “equilibrar inovação com responsabilidade, criando estruturas de controle e monitoramento contínuo”.
A regulamentação também exerce papel decisivo. Quase todos os executivos entrevistados (96%) reconhecem que exigências legais têm impulsionado melhorias significativas em segurança digital. No entanto, persistem dúvidas sobre o real preparo das empresas: apenas 51% dos diretores de segurança (CISOs) confiam no cumprimento dos padrões de resiliência de infraestrutura crítica, e só 56% se dizem seguros em relação às normas de proteção de dados.
O cenário de 2025 aponta para aumento de investimentos: 77% dos executivos planejam ampliar o orçamento de cibersegurança, priorizando áreas como proteção de dados (48%) e segurança na nuvem (34%). Contudo, a aplicação dos recursos ainda carece de visão estratégica — só 21% das empresas afirmam direcionar o orçamento de maneira realmente eficaz para enfrentar os principais riscos. “Não basta gastar mais, é preciso gastar melhor. A cibersegurança precisa ser parte do DNA do negócio, com foco claro em prevenção e resiliência”, afirma Taich.
O levantamento da PwC reforça que a segurança digital não pode ser tratada como um tema exclusivamente técnico. Ela afeta diretamente a confiança do mercado e a capacidade competitiva das organizações. O caminho, segundo os especialistas, passa por uma maior integração entre equipes técnicas, lideranças e áreas decisórias, para que a segurança se torne um pilar estratégico no ambiente corporativo.
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