
O governo da Holanda assumiu o controle da Nexperia, fabricante de semicondutores de propriedade chinesa sediada no país europeu, em uma medida extraordinária destinada a garantir a disponibilidade de chips essenciais na Europa, especialmente para a indústria automotiva e eletrônica, diante do aumento das tensões comerciais globais.
A Nexperia, subsidiária da chinesa Wingtech Technology, produz chips em alto volume usados em automóveis, eletrônicos de consumo e outros setores, tornando-se uma peça chave nas cadeias de suprimentos tecnológicas europeias.
Segundo o Ministro da Economia holandês, a intervenção foi realizada com base na “Lei de Disponibilidade de Bens”, invocada em setembro, para evitar que produtos acabados e semiacabados da Nexperia ficassem indisponíveis em situações de emergência. Após o anúncio, as ações da Wingtech atingiram o limite máximo diário de queda de 10% na Bolsa de Xangai.
A Lei de Disponibilidade de Bens permite que o governo holandês intervenha em empresas privadas para garantir bens essenciais durante crises, e a ação ocorre em um contexto de crescente disputa comercial entre Estados Unidos e China.
O comunicado oficial destacou que a medida “altamente excepcional” se deu após a identificação de sinais de deficiências e problemas de governança dentro da Nexperia, representando riscos à continuidade e à salvaguarda de capacidades tecnológicas cruciais na Holanda e na Europa. O setor automotivo foi apontado como particularmente vulnerável.
Em um documento corporativo apresentado à Bolsa de Xangai em 13 de outubro, a Wingtech confirmou que a Nexperia está sob gestão externa temporária, com a suspensão de alterações em ativos, negócios ou pessoal por até um ano. O presidente da Wingtech, Zhang Xuezheng, foi afastado de seus cargos na Nexperia imediatamente após a ordem ministerial. Apesar disso, as operações diárias da empresa continuam, embora o impacto das medidas ainda não seja totalmente conhecido.
A Wingtech classificou a decisão da Holanda como uma intervenção excessiva motivada por geopolítica, afirmando que desde a aquisição da Nexperia em 2019 mantém operações transparentes, governança sólida e milhares de funcionários em unidades de P&D e produção na Holanda, Alemanha e Reino Unido.
Um porta-voz da Nexperia disse que a empresa cumpre todas as leis, regulamentações, controles de exportação e sanções, mantendo contato regular com autoridades relevantes.
A ação do governo holandês ocorre pouco depois de a China reforçar restrições à exportação de elementos de terras raras e ímãs, podendo impactar ainda mais a indústria automotiva europeia. A medida também pode tensionar ainda mais as relações comerciais entre Holanda e China, após anos de restrições a equipamentos avançados de semicondutores da holandesa ASML vendidos à China.
Em 2023, a Holanda também investigou a aquisição da startup de chips Nowi pela Nexperia, que foi aprovada posteriormente, reforçando o contexto de controle estratégico sobre o setor de semicondutores.