
A receita das empresas de telecomunicações está em crescimento moderado, menos acelerado do que nos anos anteriores, refletindo um momento de transição no setor. Segundo Ari Lopes, gerente sênior de Service Providers Americas da Omdia, essa fase exige preparo para um novo salto de expansão. Os dados fazem parte do estudo “The State of Business in Latin America”, divulgado nesta quarta-feira (1º), durante a Futurecom 2025.
Com faturamento global de US$ 1,6 trilhão e avanço anual de apenas 1,9%, a indústria de telecom passa por ajustes após grandes aportes em 5G, cujo retorno financeiro ainda não é percebido. “Até 2026 haverá maior controle dos gastos, já que as operadoras que participaram do leilão de 2021 investiram pesado para cumprir obrigações regulatórias. Agora, com o 5G presente em mais de 1.640 cidades no Brasil, é natural que os aportes sejam mais comedidos”, explica Lopes.
O Brasil representa US$ 27 bilhões dessa receita, seguido por México, Argentina e Colômbia, e se destaca pelo crescimento do ARPU (Receita Média por Usuário) acima da inflação, um diferencial em relação a outros países da região.
FTTH acelera e Brasil entra no Top 15 global
O avanço do FTTH (Fiber to the Home) é o principal motor da banda larga fixa na América Latina. No 2º trimestre de 2025, o Brasil adicionou 3,5 milhões de conexões de fibra, alcançando presença em 49,3% dos lares, ficando atrás apenas de China, Índia e EUA. O desempenho superou o México, que registrou 2,6 milhões de novas conexões.
Segundo o estudo, Brasil, México e Argentina são os únicos países latino-americanos presentes entre os Top 15 do ranking global de investimentos em fibra ótica. O crescimento é impulsionado pela demanda por maior velocidade e estabilidade, fundamentais para suportar novas tecnologias digitais e IoT.
5G ainda avança lentamente na região
Apesar dos investimentos, a penetração do 5G na América Latina segue desigual. Brasil e México concentram 79% das conexões 5G, embora representem apenas 51% do total de linhas móveis da região. Já Argentina e Colômbia ainda estão em fases iniciais após realizarem leilões de espectro apenas em 2023.
Atualmente, 20,6% da população brasileira já possui acesso ao 5G, mas a previsão é de crescimento acelerado. A Omdia projeta que até 2029 a região terá 502 milhões de conexões 5G, representando 55% do total de conexões móveis.
Sustentabilidade do setor e futuro da conectividade
O estudo também alerta para os riscos da competitividade predatória em alguns mercados latino-americanos, onde operadoras com margens de EBITDA inferiores a 30% enfrentam dificuldades para investir e manter sustentabilidade. Em países como México, Chile e Peru, várias operadoras já operam em níveis críticos, com margens próximas a 9%.
No Brasil, no entanto, o cenário é mais equilibrado. As três principais operadoras — Vivo, Claro e TIM — registram margens superiores a 40%, permitindo maior capacidade de investimento e estabilidade no longo prazo.
“É uma oportunidade única para o Brasil se preparar para o futuro da conectividade, enquanto outros mercados ainda enfrentam desafios estruturais”, reforça Ari Lopes.