
Mudança na recomendação oficial
Segundo a imprensa americana, o presidente Donald Trump deve formalizar ainda hoje uma recomendação para que o paracetamol — conhecido como Tylenol nos EUA — seja utilizado com restrições por grávidas, sobretudo em situações que não envolvam febre alta.
Na última sexta-feira (19), Trump antecipou que faria um anúncio “incrível” sobre autismo, sugerindo ter encontrado uma possível explicação para o aumento dos diagnósticos no país.
Divergência entre governo e comunidade médica
Atualmente, órgãos de saúde ao redor do mundo consideram o paracetamol uma das opções mais seguras para grávidas no controle de dor e febre.
O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia afirma não existirem evidências conclusivas que liguem o uso adequado do medicamento a problemas no desenvolvimento fetal. No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) classifica o paracetamol como “primeira escolha” entre os analgésicos durante a gestação.
A Kenvue, fabricante do Tylenol, declarou que “discorda veementemente” da iniciativa e considera a medida um risco à saúde materna.
Estudos apresentam resultados divergentes
Embora algumas pesquisas tenham apontado associação entre o uso de paracetamol e o desenvolvimento de autismo, os dados permanecem inconclusivos.
Uma revisão recente da Universidade Harvard recomendou cautela, mas não confirmou ligação direta. Já um estudo publicado em 2024 não encontrou qualquer relação entre o medicamento e o transtorno.
Pesquisadores reforçam que o autismo é uma condição complexa, geralmente resultante de múltiplos fatores genéticos e ambientais.
Medicamento de uso global
O paracetamol, também chamado de acetaminofeno, é um dos analgésicos mais consumidos no mundo. No Brasil, está disponível sob diversas marcas e é indicado para febre e dores leves a moderadas, como enxaquecas agudas, desconfortos pós-parto e dores pós-cirúrgicas.
No entanto, sua eficácia é limitada em casos como dores lombares crônicas ou associadas ao câncer, em que estudos apontam resultados semelhantes ao placebo.
Risco real está na dosagem excessiva
Especialistas alertam que o principal perigo do paracetamol está no consumo acima da dose recomendada — até 4 gramas por dia (o equivalente a oito comprimidos de 500 mg). Acima desse limite, há risco de danos graves ao fígado, incluindo insuficiência hepática.
Como o princípio ativo está presente em mais de 600 medicamentos, casos de overdose acidental são comuns, principalmente quando o paciente combina produtos sem perceber a duplicidade.
Contexto político e histórico
O secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., aliado de Trump, havia prometido em abril uma ofensiva para identificar possíveis causas do autismo em cinco meses — prazo visto por especialistas como inviável.
Kennedy já foi criticado anteriormente por associar, sem base científica, vacinas ao aumento de casos de autismo.
Nos EUA, a taxa de diagnóstico entre crianças de 8 anos chegou a 2,77% em 2020, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Parte desse crescimento é atribuída a avanços nos critérios de avaliação e maior capacidade de detecção.