
O segundo maior diamante já registrado no Brasil, com impressionantes 646,78 quilates (equivalente a cerca de 129 gramas), está no centro de uma investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) e pela Agência Nacional de Mineração (ANM). A gema foi retida após suspeitas de que teria sido desviada de sua real origem e “esquentada” com documentação falsa para permitir sua venda no exterior.
Apresentada pela mineradora Diadel Mineração como sendo proveniente do município de Coromandel, no Alto Paranaíba (MG), a pedra teria, na verdade, sido extraída de um garimpo localizado em Araguari, no Triângulo Mineiro. A origem contestada levantou sérias dúvidas por parte das autoridades, que decidiram suspender a emissão do Certificado do Processo de Kimberley (CPK), documento essencial para a exportação legal de diamantes.
A retenção ocorreu no dia 27 de agosto de 2025, justamente quando o processo de certificação estava em andamento. No mesmo dia, a própria Diadel protocolou um pedido de cancelamento do CPK — atitude considerada atípica por especialistas do setor, que enxergaram no movimento uma tentativa de evitar o aprofundamento das investigações.
A ANM determinou que a empresa apresente, em até 60 dias, documentos que comprovem de forma inequívoca a origem da gema. Entre os materiais exigidos estão registros de produção, imagens georreferenciadas com data e hora, laudos técnicos, e depoimentos que indiquem quem participou da extração. O objetivo é identificar toda a cadeia de custódia do diamante desde sua retirada do solo até sua apresentação para exportação.
Relatos de moradores da região e de profissionais do setor reforçam a suspeita de que a extração não ocorreu no local declarado. Há também inconsistências sobre o funcionamento do garimpo da Diadel em Coromandel, que, segundo fontes locais, operava de forma intermitente e teria sido encerrado logo após o anúncio da descoberta — comportamento considerado incomum diante de uma descoberta de tamanha magnitude.
Outro ponto que levantou suspeitas foi a forma como a venda do diamante foi conduzida. Estima-se que a pedra tenha sido negociada por valores entre R$ 16 milhões e R$ 18 milhões — montante considerado muito abaixo do valor de mercado para uma gema desse porte, que poderia facilmente ultrapassar os R$ 50 milhões. Além disso, a venda teria ocorrido de maneira discreta, sem a realização de leilão ou consulta a compradores tradicionais do mercado internacional.
A credibilidade da mineradora também está sob questionamento. Um dos sócios da Diadel, Carlos César Manhas, já foi condenado anteriormente por receptação de diamantes provenientes de reserva indígena. O histórico reforça a cautela das autoridades em liberar o bem para comercialização.
Enquanto isso, a família do garimpeiro Nilton França, que afirma ter sido o responsável por encontrar o diamante em Coromandel, nega qualquer irregularidade. Segundo seu filho, Régis França, a denúncia que levou à investigação teria sido motivada por desavenças pessoais entre vendedores e compradores da gema, e não por ilegalidades na extração. “A gente sabe da verdade. Essa acusação é má-fé de quem queria comprar a pedra e não conseguiu”, afirmou.