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Tarifas dos EUA pressionam indústria química brasileira e acentuam déficit comercial

Setor já fragilizado por importações predatórias agora enfrenta novos obstáculos para manter competitividade no mercado internacional

A imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre uma ampla gama de produtos brasileiros, válida desde 1º de agosto de 2025, acendeu um alerta vermelho na indústria química nacional. O setor, que já enfrentava um cenário de forte concorrência internacional e crescente déficit comercial, agora vê sua competitividade ainda mais ameaçada.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o Brasil importou cerca de US$ 63,9 bilhões em produtos químicos em 2024 — o segundo maior volume da série histórica, atrás apenas dos US$ 80,3 bilhões registrados em 2022. Em contrapartida, as exportações cresceram modestos 4,3%, totalizando US$ 15,2 bilhões, o que resultou em um déficit expressivo de US$ 48,7 bilhões no setor.

As chamadas “importações predatórias”, especialmente de países asiáticos e dos próprios Estados Unidos, têm pressionado fortemente a produção nacional. Com a nova tarifa americana, que atinge aproximadamente 60% dos produtos exportados pelo Brasil aos EUA, os custos de acesso ao mercado norte-americano se tornam proibitivos para muitos fabricantes brasileiros de químicos.

O governo brasileiro reagiu com rapidez. Em 15 de julho, os ministros da Indústria, Geraldo Alckmin, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram uma carta oficial ao governo dos EUA, expressando preocupação com a medida e cobrando diálogo para revisão das tarifas. Além disso, foi anunciado um Plano de Contingência, voltado a apoiar as empresas mais afetadas pela decisão americana, especialmente aquelas que têm grande dependência das exportações para os Estados Unidos.

Para especialistas, a situação exige mais do que medidas emergenciais. A aposta está na diversificação de mercados — com maior presença na Ásia, na Europa e entre países do Mercosul —, além da valorização de produtos de maior valor agregado. Outra medida fundamental seria o fortalecimento de políticas públicas como o Regime Especial da Indústria Química (REIQ), que pode ajudar a reduzir custos de produção e estimular investimentos.

O momento é de atenção redobrada. Com os custos de crédito elevados, alta dependência de insumos importados e queda de competitividade, o setor químico brasileiro precisa de uma agenda estruturada e de longo prazo para resistir à turbulência internacional e recuperar sua posição nos mercados globais.

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