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Indústria brasileira em 2025: extrativismo avança enquanto transformação enfrenta entraves

Alta dos juros, tarifas dos EUA e crédito restrito pressionam a indústria de transformação, mas setor extrativo e agropecuária impulsionam o PIB

A indústria brasileira em 2025 apresenta um cenário contrastante. Enquanto o setor extrativo segue em expansão, impulsionado pela produção de petróleo, gás natural e minério de ferro, a indústria de transformação enfrenta sérias dificuldades. O ambiente econômico global menos favorável e as tarifas recém-impostas pelos Estados Unidos se somam a condições financeiras internas restritivas, tornando o ano desafiador para boa parte do setor industrial.

Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), embora a produção industrial como um todo ainda registre crescimento, o ritmo é mais lento. A indústria de transformação, que cresceu 3,8% em 2024, deve permanecer praticamente estagnada este ano, com projeção de queda de 0,9% em 2026.

“Os juros neste patamar tão elevado, com a Selic a 15% ao ano, comprometem fortemente o desempenho do setor, especialmente o de bens duráveis, que depende de crédito acessível”, afirma José Maurício Caldeira, sócio e conselheiro da Colpar Brasil, grupo com atuação diversificada na indústria e no agronegócio. De acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, a taxa básica de juros deve começar a cair apenas em 2026, atingindo cerca de 12,5%.

A restrição no crédito afeta diretamente segmentos como informática, eletrônicos, veículos e materiais de construção. O setor alimentício também desacelerou, impactado pela alta nos preços e pela sazonalidade de certos produtos. A produção de veículos pesados recuou, reflexo da queda nas vendas de caminhões.

Por outro lado, a fabricação de veículos leves segue aquecida, impulsionada pelas compras de locadoras, por uma safra agrícola recorde e por novos programas governamentais. A indústria de máquinas e equipamentos também cresce, sustentada pela demanda do agronegócio e da indústria extrativa.

O setor extrativo, que passou por relativa estabilidade em 2024, deve crescer 7,2% em 2025 e 11,9% em 2026, com destaque para a extração de petróleo e gás. Esse desempenho tem sido crucial para compensar a retração da indústria de transformação. A Fiesp revisou sua estimativa de crescimento da indústria geral para 2025, de 1,3% para 0,9%.

As tensões comerciais também agravam o cenário. Em agosto de 2025, os Estados Unidos impuseram tarifas de 50% sobre cerca de 60% dos produtos brasileiros importados, afetando especialmente a indústria de transformação. Em 2024, 78% das exportações brasileiras para os EUA vieram deste setor, totalizando US$ 31,6 bilhões, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A Fiesp calcula que as tarifas podem reduzir em 0,20 ponto percentual o PIB da indústria em 2025.

Ainda assim, o PIB brasileiro deve crescer. A Fiesp mantém a projeção de avanço de 2,4% em 2025, enquanto a CNI prevê 2,3%. O principal motor da economia será o agronegócio, com estimativa de crescimento de 7,9%, impulsionado pelas boas condições climáticas, safra recorde e forte produção animal. “A agropecuária é menos sensível ao crédito, já que dispõe de fontes alternativas de financiamento”, observa Caldeira.

Outro fator positivo é o mercado de trabalho, que segue aquecido. A taxa de desemprego caiu para 5,8% no trimestre encerrado em junho, o menor índice da série histórica, segundo o IBGE. A massa salarial também cresceu 5,9% na comparação com junho de 2024, embora haja expectativa de desaceleração nos próximos meses.

Com os juros reais em torno de 10% (considerando uma inflação de 5% ao ano) e o Banco Central sinalizando cautela diante do cenário geopolítico, a tendência é de esfriamento da atividade econômica. A concessão de crédito para pessoas físicas, por exemplo, já mostra sinais de desaceleração.

“Além da Selic elevada, a indústria enfrenta um ambiente de grande incerteza”, reforça Caldeira. Ele alerta que os investimentos podem ser postergados e que as empresas precisarão buscar novos mercados diante das perdas com as exportações para os EUA. “É fundamental que o pacote de medidas para mitigar os impactos das tarifas seja implementado rapidamente. O setor produtivo precisa de apoio para atravessar essa turbulência”, conclui.

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