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Promessas e Desafios das Startups de IA: O Impacto das Aquisições e Licenciamentos das Gigantes Tecnológicas

Como Google, Meta, Microsoft e Amazon estão transformando o mercado de startups de inteligência artificial por meio de aquisições parciais e licenciamento, e o que isso significa para investidores, funcionários e inovação no Vale do Silício.

No meio da crescente corrida da inteligência artificial, startups de IA têm enfrentado desafios inéditos à medida que gigantes do setor — Google, Meta, Microsoft e Amazon — intensificam suas estratégias para captar talentos e tecnologias, muitas vezes por meio de aquisições parciais ou acordos de licenciamento. Um exemplo recente é a startup Windsurf, que viu seu CEO interino, Jeff Wang, assumir o comando em meio a uma crise após a saída de fundadores e pesquisadores para o Google, numa negociação de licenciamento avaliada em US$ 2,4 bilhões.

O caso da Windsurf ilustra um fenômeno preocupante no Vale do Silício: startups sendo desmembradas após negociações que favorecem os fundadores e principais engenheiros, deixando o restante da equipe e investidores em situação incerta. “Há uma grande dúvida sobre quais são as perspectivas futuras deles”, afirma Samir Kumar, sócio da Touring Capital, referindo-se às chamadas “empresas zumbi” resultantes desses processos.

A Meta, por exemplo, apostou US$ 14,3 bilhões na Scale AI, adquirindo 49% da empresa e contratando seu CEO para liderar um laboratório de superinteligência. Apesar do investimento expressivo e de dobrar a avaliação da Scale para US$ 14 bilhões, a startup demitiu 14% dos funcionários, mostrando que nem sempre grandes aportes se traduzem em crescimento pleno. Ainda assim, a Scale segue operacional e com receitas superiores a US$ 100 milhões.

Outros exemplos incluem a Microsoft, que contratou cofundadores da Inflection AI em uma transação avaliada em cerca de US$ 650 milhões, e a Amazon, que fechou acordos semelhantes com Adept e Covariant. Neste último caso, a startup Berkeley, conhecida por sistemas de IA para robôs de armazém, viu três de seus cofundadores e 25% do time migrarem para a Amazon, que adquiriu uma licença não exclusiva da tecnologia por mais de US$ 400 milhões.

Para muitos investidores de risco, esses acordos representam um desafio. Enquanto tradicionalmente startups buscavam uma oferta pública inicial (IPO) ou uma aquisição integral lucrativa, agora a tendência é o desmembramento parcial, onde os ganhos financeiros vão para fundadores e engenheiros-chave, enquanto outros funcionários ficam com menos benefícios e a empresa remanescente enfrenta dificuldades para crescer.

Especialistas apontam que essas aquisições “parciais” são uma forma das gigantes de tecnologia contornarem barreiras regulatórias antitruste, que têm dificultado fusões e compras totais recentes. O modelo permite que grandes empresas adquiram controle estratégico sem desencadear revisões regulatórias rigorosas, mas gera preocupações sobre a inovação e o futuro das startups.

Na Windsurf, após o fracasso das negociações com a OpenAI, a startup foi vendida à Cognition por US$ 250 milhões — valor inferior a 10% do que a OpenAI havia considerado pagar. Apesar do impacto emocional e da incerteza para os funcionários, Wang afirma que há uma nova motivação para provar que a empresa ainda está viva e relevante.

O cenário se repete na Character.AI, comprada pelo Google, e na Inflection AI, agora parte da Microsoft, onde equipes perderam seus fundadores e viram grandes mudanças culturais e estruturais. Embora algumas dessas empresas ainda mantenham operações e entreguem produtos relevantes, o efeito na moral e na capacidade de inovação é notório.

Enquanto isso, reguladores americanos e europeus têm tentado frear algumas fusões e aquisições, mas as estratégias de aquisição por participação e licenciamento têm dificultado o controle. A FTC abriu investigações em casos recentes, mas o futuro das normas regulatórias para o mercado de IA ainda é incerto.

Esse novo panorama exige que investidores, funcionários e fundadores entendam as novas dinâmicas e riscos do mercado, especialmente diante do boom da IA generativa e da disputa acirrada por talentos e tecnologias. No centro desse processo, permanece a questão: qual é o verdadeiro custo para a inovação e o ecossistema de startups?

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