
O influenciador digital Felca tem chamado atenção para um problema silencioso, porém alarmante, presente em diversas plataformas de redes sociais: o chamado “algoritmo P”. O termo foi criado por ele para descrever um mecanismo de recomendação que, segundo sua denúncia, acaba expondo crianças e adolescentes a predadores sexuais na internet.
As plataformas digitais utilizam algoritmos para manter os usuários engajados, recomendando conteúdos semelhantes àqueles com os quais a pessoa já interagiu. Porém, Felca demonstrou em vídeo recente que esse sistema pode ser explorado de forma extremamente perigosa. Criando um perfil do zero e interagindo com poucos conteúdos infantis, o influenciador percebeu que o algoritmo passou a recomendar uma série de publicações envolvendo crianças em contextos considerados sexualizados, ainda que sutilmente.
Segundo ele, essa falha facilita o contato entre pedófilos e conteúdos com menores de idade. Comentários como “trade” (indicação de troca de conteúdo) ou termos codificados como “CP” (child porn) são frequentemente usados por criminosos para sinalizar interesse ou sugerir trocas ilegais. Muitas dessas interações acabam sendo direcionadas para plataformas externas, como o Telegram, onde ocorre a disseminação de material de abuso infantil.
A repercussão do vídeo de Felca foi significativa. A ONG SaferNet, que atua no combate a crimes virtuais, registrou um aumento de 114% nas denúncias de conteúdos envolvendo crianças logo após a publicação. No período de 6 a 12 de agosto, foram feitas mais de 1.600 denúncias únicas, segundo dados da própria entidade. Todas as denúncias são encaminhadas ao Ministério Público Federal para investigação.
Para Thiago Tavares, presidente da SaferNet, o vídeo trouxe à tona dois problemas recorrentes: a atuação de pedófilos em plataformas como o Telegram e o uso de símbolos, siglas e emojis para burlar sistemas de moderação. Ele reforça que a falha dos algoritmos em identificar e bloquear esse tipo de conteúdo precisa ser urgentemente debatida com empresas de tecnologia, governo e sociedade civil.
Apesar das políticas de segurança anunciadas por redes sociais, o caso expõe como sistemas automatizados de recomendação podem acabar colaborando para a perpetuação de crimes graves, se não forem constantemente revisados e monitorados. O chamado “algoritmo P” se torna, assim, um alerta sobre a responsabilidade das plataformas digitais em proteger os usuários mais vulneráveis: crianças e adolescentes.