
Dados obtidos pela Folha e divulgados pela Folhapress revelam que 7 em cada 10 empresas que se instalaram no Paraguai no regime de maquiladoras nos últimos 25 anos são brasileiras, em busca de uma tributação mais leve e maior competitividade.
O ritmo de expansão acelerou a partir de 2014: até o fim de 2024 havia 203 unidades em operação instaladas por empresas brasileiras. Desse total, 71% das 292 maquiladoras em atividade eram de origem brasileira.
O movimento inclui grandes nomes da indústria têxtil e calçadista. Destaca-se o caso da tradicional marca Lupo, que inaugurou em janeiro sua primeira planta fora do Brasil, em Ciudad del Este, com investimento de R$ 30 milhões e expectativa de gerar 350 empregos diretos até 2026 . Outras empresas como Guararapes (Riachuelo) também investiram nesse modelo, criando milhares de vagas durante o ano.
📦 Como funciona o regime de maquila
A Lei de Maquila do Paraguai, regulamentada em 2000, permite que empresas estrangeiras instalem unidades industriais com isenção de impostos sobre matéria-prima, bens de capital, mão de obra e serviços, aplicando apenas 1% sobre o valor exportado. Esse modelo atrai empresas brasileiras que buscavam fugir de uma carga fiscal que pode ultrapassar 34% no Brasil.
O Paraguai também mantém um sistema tributário chamado “10‑10‑10”: 10% de imposto de renda para pessoa jurídica, 10% para pessoa física e 10% de IVA, além de encargos trabalhistas muito mais baixos que no Brasil (cerca de 35% da folha, contra até 110% no país vizinho).
💰 Vantagens econômicas e riscos para o Brasil
Além da redução de custos com tributos e mão de obra — que podem representar economia de até 28% no custo total da operação —, o Paraguai oferece energia elétrica barata, logística eficiente e proximidade com mercados sul-americanos, especialmente o Brasil. Estima-se que 6 de cada 10 produtos fabricados nas maquiladoras paraguaias são vendidos ao Brasil, reforçando o efeito competitivo dessas operações.
O impacto no Brasil acende alerta sobre risco de desindustrialização. Conforme o Sinditêxtil-SP, muitas empresas preferem produzir no Paraguai e importar de volta, pois esse custo pode ser inferior ao da produção local. “É lamentável que empresas brasileiras tenham que investir em outro país e gerar empregos lá para se manterem competitivas”, lamenta o presidente da entidade.
🎯 Estratégia paraguaia e reflexos na competitividade
Para fortalecer o fluxo de investimentos, o governo paraguaio, liderado por Santiago Peña, busca atrair ainda mais empresas brasileiras. A presidente do Conselho Nacional das Maquiladoras, Natalia Cáceres, afirma que o objetivo não é retirar indústrias do Brasil, mas sim elevar a competitividade das mesmas, oferecendo alternativas estratégicas no Paraguai.
Em paralelo, missões comerciais da CNI e da Apex-Brasil têm incentivado empresas brasileiras a conhecer o mercado paraguaio. Estima-se que cerca de 400 empresas já participaram dessas ações recentes, buscando explorar o mercado regional e o ambiente fiscal favorável do país vizinho.