Colunistas
Tendência

Três ciclos de testes em 30 dias: a linha entre eficiência e prejuízo em projetos de ERP

Por Paulo Silveira

60%, 80% e 100%. Esses três números definem o destino de um projeto de ERP – sistema de software que integra e automatiza os principais processos de negócios de uma empresa em uma única plataforma O primeiro ciclo de testes deve atingir 60% de aprovação com dados fictícios. O segundo, 80% já com dados reais. O terceiro, 100% validando funções críticas e cenários raros. Cada ciclo precisa ser concluído em até 30 dias. Quando essa disciplina é ignorada, o go-live pode se transformar de um marco de eficiência em um desastre de alto custo, com paralisações, falhas fiscais, retrabalho e perda de credibilidade da liderança.

Implementar um ERP vai muito além da troca de sistemas. É uma transformação organizacional que exige integração profunda entre áreas, revisão de processos de ponta a ponta e, muitas vezes, mudanças culturais. Mais do que tecnologia, envolve pessoas, métodos e disciplina. Nesse contexto, os testes integrados deixam de ser um detalhe e se tornam o divisor de águas entre sucesso e fracasso.

Quando bem conduzidos, os testes integrados simulam o funcionamento real do ERP, conectando fluxos de diferentes departamentos e validando se cada transação percorre corretamente seu ciclo completo. É nesse momento que se descobre se a parametrização atende aos objetivos de negócio, se os dados estão íntegros e se os usuários-chave dominam os fluxos e funcionalidades. Sem essa validação, avançar para o go-live é como lançar um avião sem ter feito testes de voo: tecnicamente possível, mas altamente arriscado.

A forma mais segura de conduzir essa etapa é por meio de três ciclos de testes integrados, cada um com objetivos e métricas bem definidos:

  • Ciclo I: com dados fictícios, identifica falhas estruturais em cenários limitados. Meta: 60%.

  • Ciclo II: já com dados reais, valida os cenários-chave com participação ativa dos key users. Meta: 80%.

  • Ciclo III: em ambiente próximo à produção, confirma funções críticas e cenários raros. Meta: 100%.

Dois princípios sustentam todos os ciclos. O primeiro é a participação efetiva dos key users, que garantem a tradução fiel dos processos de negócio. Sem eles, a qualidade do teste despenca. O segundo é a consistência dos dados: informações incompletas ou artificiais criam uma falsa sensação de segurança. Antes dos ciclos integrados, é essencial concluir e aprovar os testes unitários. Sem essa base, o processo vira tentativa e erro. A gestão do tempo também é crítica: cada ciclo deve durar entre 8 e 30 dias. Ultrapassar esse limite é sinal de perda de foco e risco de desorganização. Entre um ciclo e outro, é preciso absorver os aprendizados, corrigir scripts e ajustar o ambiente.

Um exemplo prático é o processo Requisition to Payment, que pode envolver fornecedores locais e internacionais, diferentes prazos e moedas, integrações bancárias e controles fiscais. Testar cada variação em condições realistas é o único caminho para prevenir falhas que, em produção, poderiam comprometer toda a cadeia.

Os riscos de um go-live mal preparado são altos: paralisação de processos críticos, erros de faturamento, falhas na integração com sistemas parceiros, problemas fiscais e perda de confiança dos usuários. Empresas que negligenciam os testes acabam gastando mais em correções emergenciais do que no investimento em uma fase estruturada.

A experiência mostra que a disciplina nos testes integrados é proporcional ao sucesso do go-live. Três ciclos bem planejados não são apenas recomendação: são condições de sobrevivência. Em ERP, os testes são a fronteira entre eficiência e desastres milionários.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo