O DPO como Peça-Chave para a Sobrevivência e a Reputação das Empresas Brasileiras
Por Fernanda Nogueira

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) deixou claro: toda organização que trata dados pessoais deve estruturar uma governança mínima em privacidade, e isso passa, obrigatoriamente, pela nomeação de um Encarregado de Dados (DPO). Apesar de já consolidado em legislações estrangeiras, no Brasil este profissional ainda é visto como uma formalidade burocrática. Nada mais equivocado. O DPO é hoje um pilar estratégico para a conformidade legal, para a confiança do consumidor e para a reputação institucional.
Dados recentes da pesquisa Perfil do DPO Brasil 2025, conduzida pela Opice Blum, mostram que apenas 27% dos profissionais atuam exclusivamente na função de DPO, enquanto a maioria acumula outras responsabilidades, muitas vezes em áreas como Jurídico, Compliance ou TI. Essa sobreposição, além de inviabilizar a dedicação plena, abre margem para conflitos de interesse: um CEO, um Compliance Officer ou um gerente de TI que também assuma a função de DPO dificilmente terá a independência necessária para questionar suas próprias decisões.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) reforça que a autonomia técnica e a ausência de conflitos de interesse são requisitos fundamentais para o exercício da função. Ignorar isso não é apenas descuido: é colocar a empresa sob risco de sanções, de perda de credibilidade e até de responsabilização civil.
Diante da escassez de profissionais qualificados e do baixo investimento das empresas brasileiras em privacidade — 74% destinam menos de R$600 mil por ano ao tema, enquanto corporações globais investem entre US$1 milhão e US$7 milhões — a modalidade DPO as a Service (DPOaaS) tem se mostrado uma alternativa inteligente.
Nesse modelo, uma consultoria especializada assume a função, garantindo independência, expertise multidisciplinar e atualização regulatória constante. O serviço não só reduz custos com folha de pagamento e capacitação interna, mas também assegura resposta ágil a incidentes e diálogo profissional com a ANPD, titulares de dados e parceiros de negócio.
Para empresas que não têm estrutura ou orçamento para manter um DPO dedicado em tempo integral, o DPOaaS deixa de ser um luxo e passa a ser uma estratégia de sobrevivência no mercado competitivo.
Outro dado alarmante da pesquisa é que a cultura de proteção de dados ainda é um dos principais desafios enfrentados pelos encarregados. Não basta nomear um DPO para “cumprir tabela”: é preciso criar um ecossistema organizacional que compreenda, valorize e pratique a privacidade.
Nesse sentido, os serviços de treinamento e capacitação cumprem um papel essencial. Eles devem atingir dois níveis: as Liderança e áreas-chave, e toda a equipe e parceiros através de treinamentos de conscientização que reforcem a cultura da privacidade, evitando que incidentes ocorram por descuido ou desconhecimento.
Empresas que apostam em treinamento contínuo não só reduzem riscos, mas fortalecem sua imagem perante clientes e autoridades.
Estar em conformidade com a LGPD deixou de ser apenas uma obrigação legal. Empresas que conseguem demonstrar governança séria em proteção de dados ganham a confiança do mercado, evitam penalidades e criam barreiras contra concorrentes menos preparados.
Num país em que a cultura de privacidade ainda engatinha, quem se antecipa ao risco colhe benefícios de credibilidade e de reputação. E nesse contexto, o DPO — seja interno, seja contratado como serviço — deixa de ser um custo e se transforma em um investimento estratégico.
Em resumo, a escolha de um DPO autônomo, qualificado e sem conflitos de interesse não pode mais ser adiada. A LGPD não é uma carta de intenções, mas uma obrigação legal que já vem sendo fiscalizada. Ao adotar soluções como o DPO as a Service e investir em programas de treinamento, as empresas brasileiras não apenas evitam sanções, mas fortalecem sua governança, criam confiança com clientes e parceiros e protegem seu maior ativo: os dados pessoais.
No jogo da conformidade, o DPO é a peça que separa empresas que estão preparadas para o futuro daquelas que ainda insistem em correr riscos desnecessários.