A inteligência artificial não vai salvar sua empresa. Quem salva ou afunda é você
Por Marcel Nobre

O mercado insiste em tratar a inteligência artificial como solução mágica para todos os problemas corporativos. Não é. Tecnologia não cria futuro sozinha. O que define quem lidera ou desaparece é a coragem de romper estruturas ultrapassadas e a capacidade de transformar IA em propósito, cultura e resultado. Empresas que enxergam IA como vitrine digital descobrem cedo que o algoritmo não corrige a ausência de estratégia, de visão e de disciplina executiva.
O Rio Innovation Week 2025 deixou claro que a inteligência artificial já é protagonista. Mas a infraestrutura sem direção se transforma em custo. Ferramentas estão disponíveis a todos. O diferencial competitivo nasce de quem dá a elas narrativa estratégica, conectando tecnologia a um plano maior de crescimento e relevância. A maioria das empresas não está pronta. Conselhos falam de IA em apresentações, relatórios citam projetos e CEOs destacam transformação digital. Na prática, continuam presas a processos herdados do século passado. Automatizam o velho em vez de reinventar o novo. Investem em plataformas sem coragem de mudar comportamento. O resultado é previsível: projetos caros que se tornam obsoletos antes de entregar impacto.
O erro mais grave é tratar a IA como destino. A tecnologia deve ser encarada como meio. A vantagem competitiva está em quem assume risco, testa hipóteses, mede impacto e transforma tentativa em resultado. Inteligência artificial não elimina o erro. Amplia a necessidade de errar rápido e de aprender antes dos outros. Empresas que experimentam mais, ajustam com velocidade e mantêm disciplina de execução acumulam conhecimento e criam barreiras de mercado.
Inovação também não acontece no isolamento. A era da IA é coletiva. Ecossistemas se tornaram condição de sobrevivência. Startups, universidades, plataformas de curadoria e grandes corporações formam a engrenagem que sustenta inovação em escala. Negócios que insistem em atuar sozinhos reduzem a IA a modismo de PowerPoint, incapaz de gerar densidade competitiva.
O maior deslocamento está no papel da liderança. A inteligência artificial saiu do laboratório e entrou na pauta de conselhos de administração, governos, mercados financeiros e debates sociais. Não é mais tema técnico. É uma decisão estratégica que define se empresas vão apenas sobreviver ou conquistar protagonismo. Os CEOs e conselhos precisam decidir como a IA se conecta à reputação, ao posicionamento e ao impacto econômico e social.
A provocação é clara: organizações que tratarem IA apenas como ferramenta de eficiência colherão ganhos marginais. Já as que a enxergarem como infraestrutura estratégica ditarão o ritmo do próximo ciclo econômico. O futuro não pertence à tecnologia, mas a líderes capazes de traduzi-la em transformação real.
O recado que ficou do Rio Innovation Week é definitivo. O debate não é mais sobre adotar ou não IA. A questão é: qual narrativa sua empresa vai construir com ela? A inteligência artificial pode ser apenas automação ou pode ser motor de reinvenção. Essa escolha não é técnica. É estratégica.
Marcel Nobre é professor, pesquisador e palestrante (TEDx Speaker) de inovação, tecnologia, inteligência artificial, tendências e educação, além de empreendedor, fundador e CEO da BetaLab. É professor na HSM/Singularity, StartSe e FIA Business School. Também atua como mentor de startups pela Ace Startups, tendo apoiado mais de 50 projetos em diversos segmentos nos últimos anos. Possui MBA pela FIA/USP, e diversas especializações em Inteligência Artificial, Letramento em Futuros, Metaverso, Neurociência e Mentoring. Saiba mais: https://marcelnobre.com/.