Os Guardiões Invisíveis do Nosso Mundo Digital Estão no Limite
Por Altevir Ferezin Jr

Caro leitor,
Você já parou para pensar na jornada invisível que seus dados fazem todos os dias? Cada transação via Pix, cada compra online, cada mensagem trocada em redes sociais e cada prontuário médico armazenado na nuvem. Vivemos em um Brasil digital, pulsante e conectado. Essa conveniência, no entanto, é sustentada por uma linha de defesa constante, travada em silêncio por profissionais que você provavelmente nunca encontrará: os especialistas em cibersegurança.
Eu passei décadas nesse campo e hoje, como Conselheiro, minha função é traduzir os riscos digitais para a linguagem dos negócios. E o maior risco que vejo no horizonte não é um novo tipo de vírus ou um hacker genial, mas algo profundamente humano: o esgotamento total dos nossos defensores.
A Gartner, uma das maiores consultorias do mundo, recentemente confirmou o que já sentíamos nas trincheiras: o burnout em cibersegurança é uma das principais tendências globais e uma ameaça crítica para as empresas. Mas o que isso significa para você, que não é da área?
Imagine um goleiro em uma disputa de pênaltis que nunca acaba. Ele pode fazer cem defesas espetaculares, mas o único chute que entra é o que vira notícia. Essa é a rotina de um profissional de segurança. Eles trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana, para defender a empresa contra um exército de adversários que é criativo, bem financiado e que não descansa. A cada segundo, uma nova ameaça surge. A cada nova tecnologia que sua empresa adota, uma nova porta precisa ser vigiada.
O estresse é implacável. Não se trata apenas de longas horas de trabalho. É o peso da responsabilidade. É saber que um único erro, um breve lapso de atenção, pode resultar em um vazamento de dados de milhões de clientes, em perdas financeiras catastróficas para a empresa e em danos irreparáveis à reputação que levamos anos para construir. É uma batalha travada na escuridão, onde as vitórias são silenciosas (afinal, ninguém comemora um ataque que não aconteceu) e as derrotas são públicas e devastadoras.
Como conselheiro, meu dever é alertar outros líderes e acionistas: tratar a cibersegurança apenas como um custo técnico é um erro estratégico. Ignorar o bem-estar das equipes que a operam é preparar o terreno para o desastre. Um profissional exausto é mais propenso a falhar. E no nosso mundo, uma única falha pode ser o fim do jogo.
Estamos perdendo talentos valiosos para o estresse. Em um setor que já sofre com uma grave escassez de mão de obra qualificada, isso é um luxo que não podemos nos permitir.
Portanto, quando falamos em proteger nossas empresas, precisamos ir além de firewalls e antivírus. Precisamos falar sobre pessoas. Precisamos criar uma cultura onde o sucesso seja celebrado, onde pedir ajuda não seja sinal de fraqueza e onde o suporte da alta gestão seja visível e incondicional. Precisamos dar aos nossos guardiões as ferramentas, os recursos e, acima de tudo, o respiro necessário para que continuem nos defendendo com eficácia.
A segurança do nosso futuro digital, dos nossos negócios e dos nossos dados pessoais depende diretamente do bem-estar desses profissionais. Proteger nossos guardiões não é um custo; é o investimento mais inteligente na continuidade e na resiliência de nossos negócios na era digital.