
Altas concentrações de terras raras identificadas em Caçapava do Sul, na região central do Rio Grande do Sul, colocam o município no mapa da mineração tecnológica. Segundo o professor Edinei Koester, do curso de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esses elementos químicos estratégicos estão presentes em rochas do tipo carbonatito encontradas na cidade.
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a produção de turbinas eólicas, baterias de carros elétricos, cabos de transmissão, foguetes, equipamentos médicos, armas e dispositivos eletrônicos de última geração. Apesar do nome, não são exatamente raras: estão distribuídas por todo o mundo, mas em baixas concentrações, o que dificulta a extração.
“São elementos difíceis de retirar da natureza e fundamentais para várias tecnologias, de motores de carros elétricos a lasers e câmeras de LED”, explica Koester.
Atualmente, o Brasil exporta o material bruto, sem agregar valor na cadeia produtiva. Para o professor, essa é uma oportunidade perdida:
“Se tivermos indústrias para produzir ímãs ou telas de LED aqui, geramos empregos e tecnologia. Isso beneficiaria Caçapava do Sul e o Brasil como um todo”, avalia.
Por enquanto, não há mineração de terras raras em Caçapava do Sul. Os estudos buscam mapear a ocorrência e a viabilidade de extração. O maior desafio está na concentração dos elementos após a retirada da rocha, etapa para a qual o país ainda não possui tecnologia consolidada.
Koester ressalta que a exploração deve ser planejada para evitar impactos ambientais:
“A mineração pode trazer benefícios, desde que seja feita com estudos bem estruturados, trabalhos integrados e respeito ao meio ambiente”.
O estudo, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), integra o edital Minerais Estratégicos e segue até dezembro de 2026. A pesquisa envolve a UFRGS, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Unipampa, com análises de solo, vegetação, água, fauna e caracterização geológica.
Potencial brasileiro ainda pouco explorado
O Brasil possui a segunda maior reserva mundial de terras raras — cerca de 21 milhões de toneladas, o equivalente a 23% do total global —, mas ainda não realiza produção e refino em escala industrial. A China lidera o setor, com 49% das reservas e domínio tecnológico, segundo o relatório Mineral Commodity Summaries 2025.
Hoje, o Brasil continua exportando parte dos minerais em estado bruto e depende de países como a China para as etapas finais de purificação. Já os Estados Unidos têm demonstrado interesse crescente nas reservas brasileiras. Em reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, teria sinalizado a intenção de firmar acordos para aquisição desses minerais estratégicos.
Segundo o presidente do Ibram, Raul Jungmann, a pressão norte-americana sobre o tema é clara e deve se intensificar nos próximos anos.