HEALTHNews
Tendência

Biossensor brasileiro detecta metástase do câncer de boca pela saliva e pode evitar cirurgias

Dispositivo desenvolvido no CNPEM identifica biomarcadores do câncer de boca pela saliva, usa inteligência artificial para análise e pode reduzir em até 70% as cirurgias desnecessárias.

Pesquisadores do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), em Campinas (SP), desenvolveram um protótipo inovador de biossensor capaz de identificar sinais de metástase do câncer de boca pela saliva, dispensando procedimentos invasivos. Compacto o suficiente para caber na ponta dos dedos, o dispositivo tem potencial para transformar o diagnóstico e o tratamento da doença.

A tecnologia, detalhada na revista Small, consegue detectar concentrações de três proteínas — LTA4H, CSTB e COL6A1 — associadas à propagação do câncer para os gânglios linfáticos do pescoço, etapa que geralmente agrava o quadro clínico. A detecção é feita por meio de espectroscopia de impedância eletroquímica, técnica que avalia o comportamento das proteínas quando entram em contato com sensores compostos por ZIF-8 e anticorpos específicos. Essa combinação atua como um “sistema chave-fechadura”, garantindo precisão na análise.

Coordenado pela pesquisadora Adriana Franco Paes Leme, do LNBio (Laboratório Nacional de Biociências), o projeto identificou os biomarcadores por mapeamento de proteínas no tecido tumoral e posterior validação na saliva. O desenvolvimento contou com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Fapesp.

O biossensor foi projetado para ser de baixo custo, visando aplicação no SUS (Sistema Único de Saúde) e uso por médicos, dentistas e técnicos diretamente em consultórios. Além de econômico, o teste é rápido, indolor e não invasivo, permitindo decisões clínicas mais assertivas e melhorando a qualidade de vida do paciente.

Outro diferencial do estudo é a aplicação de inteligência artificial na interpretação dos dados. Modelos de machine learning foram treinados para identificar casos de metástase com até 76% de acerto, sendo o biomarcador LTA4H o mais eficiente na diferenciação de pacientes com e sem disseminação tumoral.

Hoje, muitos casos de câncer de boca exigem cirurgias exploratórias, como a dissecção cervical — um procedimento que pode gerar complicações e sequelas. A pesquisadora Luciana Trino Albano, responsável pelo estudo durante seu pós-doutorado no CNPEM, afirma que cerca de 70% desses casos não apresentam metástase, o que reforça a importância de um exame capaz de evitar cirurgias desnecessárias.

A expectativa é que, em até três anos, a tecnologia se transforme em um kit portátil, disponível para hospitais, consultórios e programas públicos de rastreamento. O câncer de boca atinge principalmente homens e está relacionado a fatores de risco como tabagismo, consumo de álcool e infecção por HPV.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo