O Avanço da Inteligência Artificial e o Declínio da Comunicação Humana
Por Prof. Sandro Eduardo

Nos últimos meses de 2025, a inteligência artificial evoluiu a uma velocidade que antes parecia improvável, ampliando seu papel de simples ferramenta para se tornar um agente ativo em processos de comunicação e tomada de decisão. Mais do que gerar textos ou imagens, ela passou a interagir de forma integrada com nosso trabalho diário, influenciando como planejamos, organizamos e conduzimos interações profissionais.
Hoje já é possível encontrar soluções capazes de resumir reuniões, organizar pontos-chave e até gerar insights de follow-up. Algumas, em estágio experimental, exploram a análise de tom e de sinais emocionais sutis, a fim de auxiliar na adaptação de comunicações e até na verificação da credibilidade em interações comerciais. Esses recursos ainda não estão amplamente disponíveis ou maduros, mas já são objeto de estudo em universidades e centros de P&D — e apontam para um futuro em que máquinas poderão ler nuances emocionais e traduzi-las em métricas.
Essas ferramentas são úteis, sem dúvida. Elas encurtam ciclos, aceleram a formalização de ideias e ajudam a estruturar narrativas. Entretanto, elas provocam um impacto negativo: ao facilitar demais, reduzem a necessidade de esforço humano em interpretar o outro, manter a escuta atenta e exercitar o pensamento crítico.
A neurociência já nos alerta para cognitive offloading, ou descarga cognitiva¹ — que ocorre quando delegamos processos mentais, como memória de trabalho ou análise, a dispositivos ou sistemas externos. Embora esse recurso possa aliviar a carga mental imediata, seu uso recorrente compromete a capacidade de refletir, lembrar e raciocinar criticamente, enfraquecendo áreas neurais essenciais para criatividade, atenção plena e memória operacional. Em suma: terceirizar a prática, atrofia habilidades humanas fundamentais.
E isso também prejudica competências sutis, mas de importância crucial como a leitura de estados emocionais, a observação dos gestos e expressões faciais, as nuances da voz e a construção de diálogos genuínos.
E vou mais longe, não perdemos apenas eficiência no trabalho. Perdemos presença. Se temos respostas instantâneas e assistentes que falam por nós, cada vez menos treinamos nossa capacidade de interpretar, conectar e influenciar. E aqui surge o paradoxo: justamente no momento em que a tecnologia amplia a comunicação, estamos degenerando a nossa capacidade comunicacional.
A substituição em áreas como atendimento, vendas consultivas e suporte corporativo está forçando empresas a repensar seus times. O impacto geral no trabalho é estarrecedor: postos intelectuais, de desenvolvimento, de criação e funções de mediação sendo substituídos por IA.
Enquanto isso, profissionais mais jovens, já formados nesse ambiente, chegam ao mercado com déficits claros em comunicação, incapazes de negociação, influência e leitura social. Eles não sabem interagir. E sem Inteligência Comunicacional, eles não prosperarão, assim como líderes de equipes atuais sucumbirão, aliás, já estão.
Se não reagirmos, entregaremos à IA — que ainda não tem a capacidade plena de substituir a profundidade de uma comunicação humana — o protagonismo em espaços que eram e deveriam ser nossos.
É por isso que já aplico o conceito de Inteligência Neurocomunicacional — um avanço ainda mais amplo da inteligência comunicacional (tema do meu livro) — para resgatar e ampliar capacidades que o mundo hiperautomatizado, irremediavelmente, desgasta. É essa competência que sustenta líderes verdadeiramente influentes, equipes cooperativas e conectadas e promove recursos para liderar, negociar e prosperar nos múltiplos espectros da vida.
O alerta é claro: a IA continuará a evoluir e a tendência continuará sendo o declínio da habilidade comunicacional. Mas se perdermos esse domínio, não haverá algoritmo que devolva o que deixamos de treinar. Organizações que entenderem isso irão preservar e fortalecer uma potente vantagem competitiva: gente capaz de se conectar, colaborar, influenciar e transformar pelo diálogo, pela interação e pelo desenvolvimento de uma comunicação inteligente.