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Tarifaço dos EUA deve frear indústria brasileira até o fim de 2025, apontam especialistas

Com alta de 50% nas tarifas sobre produtos nacionais, cenário é de estagnação, perda de competitividade e queda nos investimentos

A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, em vigor desde 1º de agosto, já começa a impactar diretamente o planejamento de empresas e o desempenho industrial do país. Especialistas ouvidos pela revista Veja apontam que os efeitos da medida, anunciada em junho, devem desacelerar ainda mais a atividade da indústria brasileira, já fragilizada por juros altos, crédito caro e demanda interna moderada.

De acordo com Rafael Perez, economista da Suno Research, o aumento tarifário cria um ambiente de forte insegurança nas cadeias produtivas globais, dificultando decisões estratégicas de médio e longo prazo. “A indústria brasileira está sentindo os primeiros sinais da retração, que devem se intensificar no segundo semestre”, alerta.

O impacto imediato já foi sentido no desempenho do setor em junho. Segundo dados do IBGE, houve retração no setor extrativo e resultado praticamente estável na indústria de transformação. A expectativa para os próximos meses é de um quadro de estagnação, com crescimento técnico nulo até o fim de 2025, segundo análise de economistas do Itaú.

Setores mais afetados

O tarifaço atinge principalmente produtos com forte peso na balança comercial brasileira. Entre os mais prejudicados estão as exportações de carne bovina, café, suco de laranja, pescados, celulose e peças automotivas. Setores industriais como o de máquinas e equipamentos, mineração e bens intermediários também estão entre os mais sensíveis à nova política tarifária.

Empresas como WEG, Tupy, Fras-le, Iochpe-Maxion, Suzano e Vale estão entre as que terão que reavaliar estratégias de mercado, buscando novas rotas de exportação ou absorvendo perdas de margem nas vendas aos EUA.

“O impacto nas exportações de bens manufaturados pode ser profundo. O tarifaço compromete a competitividade de produtos brasileiros justamente no mercado que mais importa valor agregado da nossa indústria”, afirma o economista-chefe de uma grande consultoria internacional, sob anonimato.

Estados mais expostos

O efeito do tarifaço também varia de acordo com a dependência regional das exportações aos Estados Unidos. Estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram cerca de 62% de tudo o que o Brasil envia aos EUA. No entanto, o Ceará aparece como o estado proporcionalmente mais vulnerável, com 48% de sua pauta exportadora voltada ao mercado americano.

Estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimam que o impacto total do tarifaço na indústria pode gerar perdas de até US$ 3,5 bilhões. Por outro lado, analistas apontam que setores como o agronegócio, especialmente o de soja, podem ter ganhos indiretos ao redirecionar exportações para mercados asiáticos.

Perspectiva macroeconômica

Apesar dos impactos concentrados na indústria, o efeito sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2025 ainda é incerto. Estimativas preliminares indicam que a desaceleração pode derrubar até 0,2 ponto percentual do crescimento projetado para o ano. Em nível global, o protecionismo dos EUA também pode provocar retração nas cadeias comerciais, estimada em 0,16% do PIB mundial, segundo relatório da OCDE.

Reação do governo e alternativas

O governo brasileiro tem buscado medidas emergenciais para minimizar os danos. Entre as propostas em estudo estão linhas de crédito específicas para empresas exportadoras afetadas, desonerações temporárias e ações de diplomacia comercial. Uma missão oficial liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin tentou abrir canais de negociação com a Casa Branca, mas ainda sem resultados concretos.

Enquanto isso, a Confederação Nacional da Indústria organiza uma missão empresarial aos Estados Unidos, com o objetivo de sensibilizar empresas e investidores sobre os impactos negativos da medida tarifária — sem confrontar diretamente o governo americano.

Conclusão

Diante do novo cenário, especialistas são unânimes: o segundo semestre será de cautela. Com juros ainda elevados, acesso ao crédito restrito, demanda interna desaquecida e barreiras externas crescentes, a indústria brasileira enfrenta uma tempestade perfeita. A recuperação vai depender de agilidade nas respostas internas e capacidade de reposicionamento nos mercados internacionais.

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