
A escassez de profissionais qualificados coloca em risco o avanço da indústria no Brasil, especialmente em um momento de transição tecnológica para a chamada Indústria 4.0, com digitalização crescente e adoção de automação. O alerta vem do relatório Mapa do Trabalho Industrial 2025‑2027, elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria (CNI) e divulgado recentemente.
Um desafio massivo de qualificação
Segundo o estudo, o Brasil precisará capacitar cerca de 14 milhões de trabalhadores até 2027, para atender às demandas do setor:
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2,2 milhões devem ser formados para ocupar novas vagas, seja no desenvolvimento de novas áreas ou na recomposição de postos.
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Outros 11,8 milhões já estão no mercado e precisam passar por requalificação profissional para se adaptarem às atuais exigências técnicas e socioemocionais.
Áreas com maior carência
As áreas mais demandadas contemplam:
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Transporte e logística – com cerca de 3,4 milhões de profissionais a serem qualificados (23,9% do total)
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Construção – cerca de 1,5 milhão
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Operação industrial – 1,3 milhão
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Metalmecânica – 1,2 milhão
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Manutenção e reparação – ~987 mil
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Alimentos e bebidas – ~915 mil
Outros setores incluem tecnologia da informação (636 mil), engenharia (561 mil), serviços administrativos, têxtil, agropecuária e serviços gerais.
Razões da escassez
A falta de mão de obra decorre de dois vetores:
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Baixa atratividade da indústria: apenas 11% dos jovens brasileiros optam por ensino técnico — em comparação com 33% no Chile — e o setor não é a preferência majoritária dos jovens para emprego.
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Descompasso entre formação e demanda: muitos trabalhadores carecem de hard skills (como manuseio de máquinas e softwares industriais), soft skills (como pensamento crítico e inovação) e conhecimentos em saúde e segurança no trabalho, considerados fundamentais para operar na indústria moderna.
Impactos regionais
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A região Sudeste concentra 51% da demanda total (~7,1 milhões de pessoas).
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Sul: ~3 milhões (21%); Nordeste: ~2,1 milhões (15%); Centro‑Oeste: ~1,2 milhão (9%); Norte: ~671 mil (5%);
O que é necessário
Especialistas como Anaely Machado, do Observatório da CNI, indicam que é urgente promover uma combinação de:
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Ampliação das vagas e incentivos ao ensino técnico
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Expansão de programas de requalificação e reciclagem dos trabalhadores já no mercado
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Parcerias entre empresas, governo e instituições como o SENAI, com foco em capacitação contínua e alinhada às transformações tecnológicas
Consequências e urgência
Sem uma resposta estruturada, a falta de mão de obra qualificada pode frear a competitividade industrial brasileira, dificultando a adoção de novas tecnologias e comprometendo o crescimento econômico.
O prazo até 2027 reforça que a ação precisa começar imediatamente, envolvendo políticas públicas, setor privado e educação técnica para evitar um gargalo que pode retardar o desenvolvimento do setor ao longo dos próximos três anos.