
A cidade de Minaçu, em Goiás, entrou definitivamente no radar geopolítico e econômico global com a produção em larga escala de terras raras, minerais estratégicos para tecnologias de ponta. A operação é conduzida pela mineradora brasileira Serra Verde, por meio do Projeto Pela Ema, que iniciou sua produção comercial em 2024. O empreendimento goiano é o único fora da Ásia a produzir em escala os quatro elementos considerados essenciais para a transição energética e a indústria de alta tecnologia: neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy).
Esses elementos são usados em motores elétricos, turbinas eólicas, carros híbridos e até em equipamentos de defesa. Até recentemente, a China detinha praticamente o monopólio global desses minerais — controlando cerca de 70% da extração e até 90% do refino e processamento. Agora, Goiás surge como alternativa estratégica para países ocidentais que buscam reduzir sua dependência do fornecimento chinês.
A expectativa da Serra Verde é alcançar uma produção de 5 mil toneladas por ano de óxidos de terras raras até 2026. O projeto recebeu investimentos da ordem de US$ 150 milhões de fundos internacionais, como Denham Capital e Vision Blue Resources, e passou a integrar a Minerals Security Partnership (MSP), aliança entre Estados Unidos, União Europeia e Japão voltada à diversificação das cadeias de suprimentos minerais críticos. O reconhecimento internacional transformou o estado de Goiás em um protagonista inesperado na nova geopolítica dos recursos naturais.
Além de Minaçu, outras regiões goianas também começam a despontar no setor. Em Nova Roma, o projeto Carina, da chilena Aclara Resources, prevê investimentos entre R$ 2 e R$ 3,7 bilhões para explorar terras raras em um modelo de baixo impacto ambiental. A empresa inaugurou uma planta-piloto em Aparecida de Goiânia que já apresenta resultados promissores, com óxidos de alta pureza, alcançando até 95% de concentração de elementos desejados. A Aclara emprega uma técnica de “colheita mineral circular”, que permite a reutilização de água e evita o uso de produtos químicos agressivos, respondendo à crescente demanda por práticas mais sustentáveis no setor mineral.
Outro projeto relevante está sendo desenvolvido pela canadense Appia Rare Earths, em Iporá. A empresa atua na exploração de argilas iônicas ricas em elementos pesados como térbio e disprósio, e já estima reservas superiores a 50 milhões de toneladas com elevados teores de concentração. Os resultados indicam um potencial significativo de produção em áreas que, até pouco tempo atrás, estavam fora do radar da mineração de ponta.
Apesar do avanço, o Brasil ainda produz uma fração ínfima das terras raras consumidas globalmente — apenas 0,02% do total, segundo dados recentes. No entanto, as reservas brasileiras estão entre as maiores do mundo, com mais de 21 milhões de toneladas identificadas. O grande desafio agora é ampliar a capacidade de processamento interno e agregar valor à cadeia produtiva, evitando que os minerais sejam exportados em estado bruto.
A produção goiana de terras raras vem em um momento estratégico. Com os Estados Unidos elevando tarifas sobre a importação de metais críticos e a crescente demanda por tecnologias sustentáveis, o Brasil — especialmente Goiás — pode ocupar uma posição privilegiada como fornecedor confiável. Ainda assim, questões como segurança jurídica, licenciamento ambiental e incentivos à industrialização permanecem no centro do debate.
O que já é certo é que Goiás deixou de ser apenas uma promessa e passou a figurar entre os principais polos emergentes na corrida global por recursos que irão moldar o futuro energético e tecnológico do planeta. Minaçu e outras cidades do norte goiano podem ser o início de uma nova fase da mineração brasileira — mais estratégica, sustentável e integrada às cadeias globais.