
Mais de 8.000 farmácias foram descredenciadas do programa Farmácia Popular após a identificação de indícios de irregularidades, conforme informou Rafael Bruxellas Parra, diretor do Departamento Nacional de Auditoria do SUS. A ação faz parte de um esforço de limpeza e atualização da base de dados iniciada em 2023, quando o programa contava com cerca de 31 mil estabelecimentos cadastrados.
Segundo investigação da Polícia Federal revelada pelo Fantástico no domingo (20), uma organização criminosa utilizava farmácias de fachada espalhadas pelo Brasil para desviar milhões de reais do programa. O grupo também é acusado de lavar dinheiro do tráfico de drogas e financiar a compra de cocaína em países vizinhos, como Bolívia e Peru. A PF estima que cerca de R$ 40 milhões tenham sido desviados.
As fraudes incluíam o uso indevido de CPFs e endereços de pessoas inocentes, além da compra e venda de CNPJs em nome de laranjas. As investigações começaram após a apreensão de drogas em Luziânia (GO) e se estenderam a estados como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
Em um dos casos, o dentista Gustavo, morador de Sumaré (SP), descobriu que seu CPF estava sendo usado indevidamente para retirar até 20 caixas de insulina por mês, mesmo sem nunca ter sido diagnosticado com diabetes. A fraude foi registrada em uma drogaria de Campo Belo (MG), ligada a Francisca Ferreira de Souza, empregada doméstica registrada como dona de cinco farmácias em estados diferentes.
Francisca, que vive em uma casa simples em Luziânia, movimentou quase R$ 500 mil em nome da farmácia mineira. Seu marido, Brazilino Inácio dos Santos, também é investigado por ser sócio de dez empresas que, entre 2018 e 2019, movimentaram R$ 2,5 milhões.
A Polícia Federal apura ainda conexões com nomes como Fernando Piolho e Adriano Rezende Rodrigues, o “Adriano Tatu”. Uma drogaria associada a Tatu, em Cerquilho (SP), recebeu quase R$ 1 milhão do programa.
Ao todo, 148 farmácias — reais ou de fachada — e cerca de 160 mil CPFs foram utilizados indevidamente pela quadrilha. Rafael Bruxellas Parra afirmou que o sistema combate diariamente cerca de 140 mil tentativas de fraude no Farmácia Popular.
Apesar do escândalo, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, garantiu que o programa continuará ativo. “O Farmácia Popular tem mais de 20 anos, atende milhões de brasileiros e é um sucesso. Mas, como todo serviço público, exige monitoramento contínuo e aprimoramento.”