
Você sabia que seus dados pessoais, como nome, CPF, localização, hábitos de consumo e preferências online, são considerados, hoje, tão valiosos quanto o petróleo já foi no século passado? Essa comparação não é exagero. Atualmente, os dados se tornaram um recurso essencial para empresas, governos e plataformas tecnológicas. Mas ao contrário do petróleo, os dados pertencem a alguém: a você.
Essa característica torna a proteção de dados um dos temas mais importantes do nosso tempo, especialmente quando se trata de comércio internacional. Afinal, toda vez que uma empresa brasileira oferece serviços digitais para outro país, seja por meio de um e-commerce, de uma fintech ou de uma plataforma de streaming, há troca de informações entre fronteiras. E essa troca precisa respeitar regras.
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), em vigor no Brasil desde 2020, coloca o país na rota dos mercados mais exigentes do mundo. Inspirada no modelo europeu (o GDPR), a LGPD estabelece que os dados só podem ser enviados a outros países se esses oferecerem um nível de proteção compatível com o nosso. Ou seja: não basta a empresa brasileira querer fazer negócio lá fora. O país de destino também precisa respeitar o direito à privacidade dos nossos cidadãos.
Essa regra tem um motivo claro: proteger a dignidade e a liberdade das pessoas no ambiente digital. Dados não são apenas números. São pedaços da nossa identidade. E como lembra o ditado popular, “confiança não se compra, se conquista”. Por isso, quando um país mostra que leva a sério a proteção de dados, ele atrai mais investimentos, facilita acordos comerciais e ganha credibilidade no cenário global.
O Brasil conta hoje com uma das legislações de proteção de dados mais modernas da América Latina. No entanto, na prática, ainda enfrenta obstáculos significativos para ser considerado um parceiro confiável no cenário global da economia digital. Um dos principais entraves é que muitas empresas e órgãos públicos brasileiros ainda não se adequaram plenamente à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Essa falta de conformidade generalizada compromete a imagem institucional do país e dificulta sua inserção em cadeias internacionais de valor, especialmente em setores estratégicos como tecnologia, saúde, finanças e educação.
A consequência disso é clara: sem estar alinhado às exigências internacionais de proteção de dados, o Brasil se vê em desvantagem competitiva. Empresas nacionais podem ser obrigadas a adotar soluções mais caras, contratar intermediários no exterior ou, em casos mais críticos, perder acesso a mercados relevantes. Startups promissoras, por exemplo, encontram barreiras legais para expandir seus serviços globalmente por não atenderem aos requisitos de privacidade de dados exigidos por outras jurisdições. Em resumo, a falta de adequação não é apenas uma questão legal, é um fator que limita o potencial de crescimento e inovação da economia brasileira.
Nesse cenário, estar em conformidade com a LGPD deixou de ser um diferencial e passou a ser uma exigência básica para qualquer empresa brasileira que deseje se integrar ao mercado internacional. Grandes grupos econômicos, investidores estrangeiros e parceiros comerciais internacionais cada vez mais exigem garantias de que seus dados, e os dados de seus clientes, serão tratados com segurança, transparência e responsabilidade. Ou seja, quem não cumpre a LGPD está, objetivamente, fora do jogo global.
Como bem disse um relatório do Fórum Econômico Mundial: leis de privacidade bem equilibradas aumentam a confiança dos consumidores e fortalecem os mercados. Em outras palavras, proteger dados não é só uma questão técnica. É uma questão de desenvolvimento, soberania e justiça.
A LGPD foi um passo fundamental. Agora, o Brasil precisa avançar para ser reconhecido como um parceiro confiável no mundo digital. Porque, no fim das contas, a confiança é a nova moeda da economia global, e a proteção de dados é a chave para conquistar essa confiança.
Mais do que uma norma técnica, a proteção de dados representa um pacto de confiança: entre cidadãos e instituições, entre consumidores e empresas, entre nações que compartilham informações com responsabilidade. Em um mundo onde os dados circulam com velocidade e alcance sem precedentes, só haverá espaço para aqueles que souberem tratá-los com respeito, segurança e transparência.
O futuro da economia digital pertence aos países que souberem equilibrar liberdade econômica com direitos fundamentais. E, nesse contexto, a LGPD não é apenas uma lei — é o passaporte do Brasil para uma inserção soberana, ética e competitiva no cenário internacional. A confiança é a nova moeda da economia global. E a proteção de dados é o que a torna possível.