
Com mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify, a banda de rock psicodélico The Velvet Sundown está faturando milhares de dólares e provocando discussões acaloradas na indústria musical — e não é sobre o retorno da estética dos anos 70.
Foi recentemente confirmado que o grupo é, na verdade, um projeto de inteligência artificial generativa, algo já suspeitado pela aparência artificial de seus integrantes e pelos títulos genéricos de suas músicas, como Dust on the Wind.
A biografia da banda no Spotify agora assume: trata-se de um “projeto de música sintética com direção criativa humana, composto, dublado e visualizado com o suporte de IA”.
A descrição continua: “Isso não é um truque — é um espelho. Uma provocação artística projetada para questionar autoria, identidade e o futuro da música na era da inteligência artificial.”
O avanço das plataformas musicais com IA
Embora softwares como o Logic já utilizassem IA há anos, plataformas como Suno e Udio permitiram a criação de faixas completas a partir de simples comandos de texto. Assim, The Velvet Sundown não é caso isolado: artistas como Aventhis, do gênero dark country, também têm conquistado grandes audiências — com mais de 600 mil ouvintes mensais — usando apenas recursos de geração por IA.
Segundo a Deezer, cerca de 18% das faixas enviadas à plataforma já são completamente geradas por inteligência artificial, de acordo com dados divulgados em abril de 2025.
Apesar de críticas à qualidade da música produzida por IA, especialistas alertam que a tecnologia já avançou o suficiente para criar faixas com estruturas coesas e atrativas.
“O nível de composição melhorou muito. Agora temos versos, refrões e pontes consistentes”, diz Jason Palamara, professor de tecnologia musical na Herron School of Art and Design. Para ele, The Velvet Sundown é apenas “a ponta do iceberg” do que está por vir.
E com ferramentas acessíveis — algumas gratuitas e outras com planos de até US$ 30 mensais — qualquer usuário pode criar centenas de músicas com poucos cliques. A banda virtual arrecadou cerca de US$ 34 mil em 30 dias, segundo a calculadora de royalties do ChartMasters.
Artistas e gravadoras reagem à onda de músicas geradas por IA
O avanço da IA na música está gerando forte reação entre músicos e gravadoras. Sony Music, Universal Music Group e Warner Records já abriram processos contra as plataformas Suno e Udio, alegando violações massivas de direitos autorais.
Milhares de músicos têm se posicionado contra o uso de obras humanas para treinar sistemas de IA sem consentimento, pedindo mais regulação e transparência.
“O tema é central na indústria hoje, principalmente quando se trata de direitos autorais e plataformas como o Spotify”, afirma Keith Mullin, diretor de curso no Liverpool Institute for Performing Arts e guitarrista da banda The Farm.
Mesmo assim, Mullin acredita que a IA musical veio para ficar. “Não dá pra voltar atrás. A música está sempre em transformação.”
O impacto nos artistas reais
Para artistas independentes, o crescimento de bandas virtuais pode ser desanimador. A cantora pop alternativa Tilly Louise, de 25 anos, que acumula milhões de streams, afirma que nunca conseguiu viver de música e hoje trabalha em tempo integral fora da indústria.
“Ver uma banda que nem existe dominar as redes sociais é desmotivador”, lamenta.
Em resposta, educadores têm incluído a IA em seus currículos para ensinar artistas a usá-la como aliada no processo criativo — e não como substituta. Produtores renomados, como o vencedor do Grammy Timbaland, também aderiram à tendência e lançaram projetos com estrelas pop geradas por IA.
O futuro da música exige regulação e transparência
A crescente influência da IA na criação musical levanta dúvidas não apenas sobre os direitos dos artistas, mas também sobre a experiência do público. Organizações pedem que músicas feitas por IA sejam claramente rotuladas nas plataformas.
Tino Gagliardi, presidente da Federação Americana de Músicos, defendeu, em declaração à CNBC, que é necessário haver consentimento, crédito e compensação no desenvolvimento de tecnologias de IA aplicadas à música.
“Transparência é essencial para proteger o sustento dos músicos. Qualquer coisa diferente disso é roubo”, afirmou Gagliardi.
A banda The Velvet Sundow, criada por ferramentas de inteligência artificial — Foto: Reprodução/Instagram