O governo federal receberá nesta terça-feira (15), em Brasília, representantes de empresas do agronegócio e da indústria para discutir estratégias diante do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (9). A medida americana impõe uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, afetando significativamente setores exportadores.
A reunião será realizada na sede do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e integra os esforços do recém-criado comitê interministerial, instituído pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo tem como missão formular ações diplomáticas, comerciais e institucionais para negociar a reversão das novas tarifas junto ao governo norte-americano.
Coordenado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, titular do MDIC, o comitê reúne representantes da Casa Civil, dos ministérios das Relações Exteriores, da Fazenda, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca. A estratégia é promover diálogo com os setores diretamente impactados e construir uma frente de atuação conjunta.
A agenda do dia será dividida em dois momentos. Pela manhã, às 10h, será realizada uma reunião com representantes da indústria, incluindo segmentos com forte ligação comercial com os EUA, como aviação, siderurgia, alumínio, celulose, calçados, autopeças, máquinas e equipamentos. Entidades de classe e algumas empresas estarão presentes, além de representantes do Ministério de Portos e Aeroportos.
À tarde, às 14h, o foco será o agronegócio. Estarão presentes empresas exportadoras de carne, suco de laranja, frutas, mel, pescado e couro – todos setores diretamente afetados pela nova taxação americana. A reunião contará ainda com a participação do Ministério da Agricultura (Mapa), do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Pesca.
Durante coletiva no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (14), Geraldo Alckmin destacou que o diálogo também será estendido a empresas norte-americanas e à Câmara de Comércio Brasil-EUA (Amcham). “Existe uma forte integração nas cadeias produtivas. Empresas americanas também serão impactadas pelas tarifas e é importante dialogar com elas para buscar uma solução conjunta”, afirmou.
Ele citou como exemplo o setor siderúrgico: o Brasil importa carvão siderúrgico dos Estados Unidos para produzir aço semiplano, que depois é exportado novamente para o mercado americano, onde serve de insumo para a fabricação de motores e produtos de maior valor agregado.
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que, até o momento, não houve contato direto de autoridades norte-americanas com o governo brasileiro desde o anúncio das tarifas de 50% por parte do presidente Donald Trump. No entanto, revelou que o Brasil já havia antecipado uma proposta formal de negociação aos EUA antes da medida ser anunciada.
“Encaminhamos uma proposta de negociação no dia 16 de maio, em caráter confidencial, às autoridades dos Estados Unidos. Até agora, não houve resposta”, destacou Alckmin.
O vice-presidente também lembrou que chegou a se reunir anteriormente com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e com Michael Grier, representante sênior do Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), em tratativas preliminares sobre temas comerciais.
A expectativa do governo brasileiro é de que a participação ativa dos setores empresariais diretamente afetados pela nova tarifa impulsione uma articulação mais ampla, envolvendo também empresas americanas que mantêm relações comerciais com o Brasil. A ideia é que o setor privado, de ambos os países, exerça pressão conjunta pela revisão das medidas.
Alckmin negou rumores de que o Brasil teria solicitado prorrogação de prazos ou redução direta da alíquota. “O governo brasileiro não pediu extensão de prazo nem apresentou proposta sobre o percentual da tarifa. O que estamos fazendo neste momento é ouvir os setores mais impactados, incentivar sua mobilização com parceiros americanos e, paralelamente, atuamos diplomaticamente para reverter essa medida, que consideramos totalmente inadequada”, declarou.