
A Editora Kotter, de Curitiba, decidiu cancelar o “Prêmio Kotter 2025” após identificar uma quantidade significativa de inscrições com forte indício de autoria por Inteligência Artificial. De aproximadamente 900 obras recebidas, cerca de 40 apresentaram sinais claros de geração automatizada, como comentários inseridos pela própria IA. Outros 60 textos também levantaram suspeitas, levando a editora a concluir que seria impossível manter a integridade do concurso diante da incerteza sobre a origem dos materiais.
O anúncio foi feito pelas redes sociais e gerou grande repercussão entre os participantes. Em nota, a editora destacou que a decisão se baseia no compromisso com a “idoneidade literária” e que já estuda novas formas de organizar o prêmio diante desse novo cenário. A ideia é reformular o edital para o próximo ano, estabelecendo critérios mais precisos para identificação de obras autênticas.
Salvio Kotter, fundador da editora, explicou que o desafio não está apenas em reconhecer conteúdos gerados por IA, mas em lidar com a subjetividade dos indícios. Textos excessivamente polidos, uso de palavras incomuns no português e uniformidade estética são algumas das pistas que levantam suspeitas. Segundo ele, mesmo com critérios técnicos, a subjetividade na análise ainda gera dilemas: “O analista teme desclassificar um bom autor humano ou, pior, premiar um texto artificial”.
A editora já havia experimentado, de forma consciente, a publicação de uma obra com trechos produzidos por IA, convidando o leitor a distinguir o humano do digital. Para Kotter, embora a IA jamais consiga replicar a inovação e ruptura características das grandes obras literárias, ela representa um novo capítulo para o mercado editorial. A comparação com o surgimento da fotografia é inevitável: uma ferramenta inicialmente temida, mas que acabou reconhecida como arte.
O caso reforça o debate sobre os limites da Inteligência Artificial na produção cultural e levanta a necessidade de políticas editoriais mais rígidas diante da crescente presença de conteúdos automatizados. Enquanto a tecnologia avança, o mercado literário busca preservar o espaço da criação humana — ainda insubstituível na essência da arte.
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