
Uma inteligência artificial capaz de criar vídeos curtos com cenas hiper-realistas, diálogos sincronizados e até trilhas sonoras — tudo a partir de comandos de texto. Esse é o Veo 3, ferramenta desenvolvida pelo Google que, mesmo sendo paga, ganhou popularidade entre usuários do TikTok que têm usado a tecnologia para criar conteúdos inusitados, como uma apresentadora fictícia que já virou garota-propaganda ou um ônibus cruzando o autódromo de Interlagos. O sistema opera como motor da plataforma Flow, também do Google, e é visto por especialistas como um novo patamar na geração de vídeo com IA.
O diferencial do Veo está na sua capacidade de criar sequências narrativas com lógica interna e continuidade, o que o distingue de concorrentes como o Sora, da OpenAI. Além de cenas conectadas, a IA permite definir ângulos de câmera, falas e expressões — o que dá ao usuário o papel de diretor, roteirista e editor ao mesmo tempo. Mesmo sem suporte nativo ao português, o sistema já produz falas no idioma com naturalidade. O acesso ao Veo é feito via Google AI e pode chegar a mais de R$ 1.200 mensais, mas a oferta gratuita para estudantes pode explicar sua popularidade repentina.
Apesar do apelo criativo, a tecnologia reacendeu debates sobre o uso de dados autorais. Reportagem da CNBC revelou que o Google tem utilizado vídeos do YouTube para treinar o Veo, o que gerou críticas de criadores que alegam desconhecer essa prática. A empresa afirma que usa apenas um subconjunto de conteúdos e que emprega ferramentas como SynthID para inserir marcas d’água digitais nos vídeos gerados. A big tech também garante que restringe usos que envolvam violência, discursos de ódio ou desinformação.
Para especialistas como o professor Cleber Zanchettin, da UFPE, o sucesso do Veo 3 nas redes se explica por sua capacidade de cruzar o absurdo com o realismo, criando um terreno fértil para o humor e a viralização. Combinando tecnologia avançada e acessibilidade criativa, a ferramenta representa um novo capítulo na evolução da produção audiovisual — e levanta questões que vão da ética ao impacto no mercado profissional.
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