
Mesmo com mais de 55 milhões de usuários ativos, o Open Finance ainda enfrenta desafios para demonstrar valor efetivo às instituições financeiras brasileiras. É o que revela um levantamento da consultoria EY, realizado com 50 participantes do ecossistema: 62% das instituições afirmam que, até o momento, o modelo não trouxe retorno satisfatório às suas operações.
Apesar do avanço no uso e compartilhamento de dados, o Brasil — referência global em infraestrutura regulada de Open Finance — ainda não conseguiu transformar essa base robusta em resultados concretos. Um dos principais entraves apontados é a dificuldade em ir além do simples cumprimento regulatório: 30% das instituições relatam não ter conseguido converter os dados acessados em produtos ou experiências relevantes para os clientes.
O estudo destaca, ainda, o ritmo acelerado de adesão no país. Atualmente, cerca de 2 milhões de novos usuários entram no sistema por mês — uma taxa quase sete vezes superior à observada no Reino Unido, onde o modelo surgiu. Com isso, o Brasil já tem 28% da população bancarizada envolvida com o Open Finance, em comparação com 21% no cenário britânico.
Apesar do crescimento, parte significativa do mercado ainda mostra receio quanto à velocidade da implantação. Mais de um terço dos entrevistados disseram que, se pudessem, pediriam ao Banco Central uma desaceleração na agenda de implementação.
Além disso, cerca de 8 milhões de brasileiros continuam fora do alcance do sistema por estarem vinculados a instituições que ainda não aderiram ao modelo. Estima-se que isso represente 220 milhões de relações financeiras que seguem “invisíveis” para o ecossistema.
Outro ponto crítico é a qualidade dos dados. Embora não haja registros recentes de falhas técnicas, 30% das instituições participantes veem a qualidade das informações como o maior desafio atual. Para a EY, o problema pode estar mais na capacidade das instituições em gerar valor a partir dos dados do que nos dados propriamente ditos.
O estudo conclui que o futuro do Open Finance no Brasil dependerá cada vez menos da adesão formal e mais da entrega de soluções práticas e valiosas para os consumidores. Produtos como a portabilidade de crédito pessoal e consignado, previstos para 2025 e 2026, são vistos como os próximos marcos para testar a real efetividade do modelo no país.
Imagem: Adobe Photoshop