
Enquanto a inteligência artificial avança a passos largos em diversas áreas, uma revolução menos visível — mas profundamente impactante — está acontecendo no universo da matemática. No último ano, modelos de linguagem avançados demonstraram uma capacidade crescente de resolver problemas matemáticos de nível médio e até superior, aproximando-se perigosamente daquilo que, até então, era território exclusivo de mentes humanas altamente especializadas. A pergunta que surge, então, é direta: a IA está prestes a ultrapassar os matemáticos?
Para a DARPA, agência de pesquisa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, a resposta é que a matemática — essa base silenciosa que sustenta o mundo moderno — precisa urgentemente de uma transformação. Em abril, a instituição lançou a iniciativa expMath (sigla de Exponentiating Mathematics), com o objetivo de acelerar o progresso dessa disciplina fundamental. Em vídeo institucional, o gestor do programa, Patrick Shafto, foi direto: “A matemática gera um impacto imenso, mas ainda é feita, em grande parte, como tem sido feita há séculos — com pessoas em frente a lousas”.
E o alerta faz sentido. Embora invisível ao olhar cotidiano, a matemática é o motor por trás de quase tudo no mundo moderno. Ela permite simular o fluxo de ar em torno de uma aeronave, compreender oscilações nos mercados financeiros, ou até prever como o sangue circula no coração humano. E mais: avanços matemáticos já possibilitaram saltos tecnológicos fundamentais, como a criação de sistemas de criptografia — que garantem nossa segurança ao enviar mensagens privadas ou realizar operações bancárias online — e algoritmos de compressão de dados, que tornam possível transmitir vídeos e imagens em alta velocidade pela internet.
O cenário atual aponta para uma transformação radical. O papel da IA, até então mais visível em tarefas criativas e comunicacionais, começa a se firmar como potencial catalisador de descobertas matemáticas. Se antes resolver uma equação complexa demandava anos de pesquisa e abstração humana, hoje modelos treinados em larga escala conseguem navegar por conceitos e linguagens matemáticas com fluidez surpreendente.
No entanto, essa mudança não vem sem desafios. A matemática não é feita apenas de cálculos: ela envolve intuição, criatividade e um senso de beleza conceitual que, até o momento, são difíceis de serem replicados por máquinas. Mas a IA já começa a colaborar com cientistas, testando hipóteses, propondo conjecturas e analisando padrões de forma automatizada — o que pode abrir portas para colaborações híbridas entre mente humana e inteligência artificial.
Se essa tendência continuar, não é exagero imaginar um futuro em que a matemática seja conduzida não mais por solitários em frente ao quadro-negro, mas por redes neurais em sinergia com pesquisadores, repensando desde os fundamentos da lógica até as aplicações mais avançadas em engenharia, medicina e defesa.
A matemática do futuro pode não estar apenas em livros — pode estar rodando em tempo real, dentro de servidores, processando, conjecturando e, quem sabe, criando novos caminhos para o conhecimento humano.
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