
Após anos de promessas adiadas, a Tesla está prestes a colocar nas ruas de Austin, no Texas, sua primeira frota de táxis autônomos. A iniciativa, prevista para este mês, marca a entrada tardia da empresa de Elon Musk em um mercado onde concorrentes já estão estabelecidos e operando em diversas cidades pelo mundo.
Desde 2018, Musk tem anunciado a iminência do carro sem motorista, mas os prazos foram constantemente postergados. Agora, a estratégia da Tesla aposta em um modelo mais enxuto, de baixo custo e com sensores simplificados, na tentativa de competir com empresas que utilizam tecnologias mais sofisticadas e já possuem larga experiência de operação.
Entre as líderes do setor, a Waymo — subsidiária da Alphabet, controladora do Google — realiza viagens comerciais nos Estados Unidos e conduz testes no Japão. Em São Francisco, o serviço já supera a base de usuários da Lyft. Já a chinesa WeRide, presente em Abu Dhabi, segue expandindo sua atuação internacionalmente.
Empresas como Wayve, do Reino Unido, e Pony AI, da China, adotam soluções mais ousadas, com inteligência artificial generativa aplicada ao treinamento dos veículos para lidar com situações imprevisíveis. A Wayve, por exemplo, afirmou que seus sistemas já conseguem operar nas ruas dos EUA e da Alemanha após poucas semanas de treinamento.
Apesar da complexidade tecnológica envolvida, as iniciativas também enfrentam a necessidade de redução de custos. Estimativas do Morgan Stanley indicaram que os veículos da Waymo ultrapassavam os US$ 120 mil, mas a expectativa é que novos modelos cheguem ao mercado por até US$ 85 mil. O Goldman Sachs projeta que, até 2030, o custo dos carros autônomos especializados possa cair para US$ 50 mil, tornando o serviço mais acessível ao público.
Embora os veículos dirijam sozinhos, a presença humana ainda é crucial. Algumas empresas, como a Pony AI, já permitem que um operador monitore uma dúzia de carros simultaneamente. Mesmo com uma supervisão reduzida — estimada em menos de 5% do custo por milha —, a presença humana segue indispensável para garantir segurança.
Se as projeções do setor se confirmarem, os táxis robôs poderão se tornar financeiramente viáveis nos próximos anos. Um modelo apresentado pela Huatai estima que, com custos de operação em torno de 100 mil yuans por ano (cerca de US$ 14 mil) e tarifas médias de 3 yuans por quilômetro, um veículo que percorra 300 km por dia pode gerar receita superior aos custos, aproximando-se do modelo tradicional dos taxistas humanos.
Apesar do otimismo, o crescimento do setor esbarra em obstáculos relevantes. Regulamentações específicas, exigências regionais — como zonas de circulação limitadas e número mínimo de supervisores —, além de custos com parcerias com aplicativos de carona como o Uber, que podem absorver até 30% do valor das corridas, impactam diretamente a rentabilidade.
Adicionalmente, tensões geopolíticas e embargos tecnológicos dificultam a expansão de empresas chinesas em território americano. Restrições à importação de chips e sensores afetam diretamente a operação de marcas como Baidu e Pony AI. Episódios negativos, como o acidente fatal envolvendo um carro da Cruise em 2023, também geram insegurança, endurecem regras e despertam resistência de grupos contrários à circulação desses veículos.
Mesmo assim, há otimismo cauteloso. Yu Kai, CEO da Horizon Robotics, compara os carros autônomos de hoje a cavalos inteligentes, capazes de levar o passageiro do ponto A ao B, mas ainda distantes de permitir total relaxamento durante o trajeto. O próprio Musk reconhece as dificuldades: “Os primeiros 90% do desenvolvimento são fáceis. Os 10% finais, muito mais difíceis”.
O futuro dos táxis autônomos parece inevitável, mas exige equilíbrio entre inovação, segurança, viabilidade financeira e aceitação pública.
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