
Após décadas de discussões e promessas, o túnel que ligará Santos a Guarujá, no litoral paulista, está mais próximo de se tornar realidade. A obra, prevista para iniciar em 2026, será executada com uma técnica ainda inédita no Brasil: o túnel imerso. Diferentemente de métodos tradicionais, essa tecnologia constrói segmentos de concreto na superfície, que depois são vedados, rebocados até o local de instalação, afundados no leito do canal e conectados com precisão. O sistema oferece agilidade na execução e reduz interferências no tráfego marítimo — um fator essencial considerando o intenso movimento no Porto de Santos.
Inspirado em projetos de grande escala como o túnel Fehmarnbelt, que ligará Alemanha e Dinamarca, o empreendimento brasileiro deve receber investimento estimado em R$ 5,78 bilhões, sendo o maior do Novo PAC. Com 1,5 km de extensão, dos quais 870 metros serão submersos, o túnel oferecerá três faixas por sentido, uma adaptável ao VLT e uma passagem para pedestres e ciclistas. O projeto, que substituirá a atual travessia por balsas — frequentemente congestionada e em conflito com a movimentação portuária — promete reduzir o tempo de deslocamento para apenas dois a três minutos.
Autoridades brasileiras têm buscado know-how internacional, visitando o canteiro do Fehmarnbelt, considerado hoje o maior túnel imerso do mundo, com 18 km de extensão. A visita reforça o esforço do governo paulista e federal em atrair empresas estrangeiras experientes, como a holandesa Ballast Nedam e a chinesa CCCC, para o leilão marcado para 1º de agosto. O modelo de concessão prevê que o consórcio vencedor construa e opere o túnel por 30 anos, cobrando pedágio e recebendo uma contraprestação anual do governo.
A comparação com o túnel europeu é inevitável: enquanto o Fehmarnbelt conectará duas nações com transporte rodoviário e ferroviário em um único eixo sustentável, o túnel brasileiro pode se tornar um símbolo da integração logística nacional. Em ambos os casos, a escolha por estruturas imersas se mostra estratégica para regiões portuárias, com geologia instável ou restrições aéreas. O túnel entre Santos e Guarujá não é apenas uma solução de mobilidade — é também um marco de modernização da engenharia civil brasileira.
Foto: Reprodução